Desfile de cabides

Não entendo nada de moda, mas de mulher eu entendo. Saí de dentro de uma e, algum tempo depois, entrei dentro de outra para fazer uma terceira que, modéstia à parte, é uma obra-prima. Mais por méritos de minha parceira do que por meus dotes pessoais. De qualquer forma, escorado pela ciência, reinvidico minha participação na autoria, já que contribuí com 23 cromossomos. Alguma coisa ali fui eu que fiz, nem que tenha sido a vesícula biliar.
Independente da capacidade de saber, ou não, fazer mulheres, sei apreciá-las. Existe um equilibrio natural entre as formas e medidas femininas para que o conjunto resulte em algo que se possa chamar de belo. E a coisa toda não fique parecendo uma... girafa, por exemplo. A girafa é um bicho simpático, mas mal projetado. Um equívoco do departamento de design.
Pois foi exatamente a imagem de uma girafa que me veio à mente quando, sentado no sofá, zappiando com o controle de TV na mão, parei boquiaberto em um canal que mostrava um desfile de moda. A guria vinha na minha direção, tão desengonçada e trocando as pernas, que achei que fosse cair. Gritei “caraca!” e comentei com minha mulher que a garota parecia ter bebido umas 2 garrafas de vodka.
A seguir veio outra, que parecia prima da primeira, depois outra e mais outra, todas da mesma família, a família Caniço. Era um desfile de cabides. Gente, essas gurias estão passando necessidade! Pensei em fazer um show beneficiente para arrecadar latas de leite em pó. E como estava pensando em voz alta, minha mulher emendou “pede leite desnatado, senão não tomam”. O tom de ironia do comentário revelava uma realidade preocupante: na ânsia de ficarem cada vez mais magras, essas garotas perderam o bom senso e viraram palitos, pele e osso. Qualquer ser humano nessas condições é considerado subnutrido pela Organização Mundial de Saúde.
Giselle Bündchen, a deusa de Horizontina, é a mulher mais linda do mundo. É magra sim, mas não esquelética. Tem as medidas certas. E tem até bundinha, como ela mesma descobriu recentemente. Não sei como não havia se dado conta, eu e o Leonardo di Caprio já havíamos notado.
Ela é hoje a modelo a ser imitada. E não estou falando de beleza física. Giselle exala um tipo de brilho que não se consegue só com dieta alimentar. Na passarela, com equilíbrio e harmonia, ensina como pode ser bonito um corpo em movimento. Certas pessoas têm essa capacidade de transformar em arte coisas simples, como o ato de caminhar.

4 comentários:

  1. E certas pessoas tem (já comeram o acento do "têm" né? Ah, sei lá) a capacidade de transformar palavras em arte, a arte divertida e inteligente, porque (também comeram o acento?) também tem arte que é chata e burra.

    Quanto aos cabides, não estão só na TV. Estão na revista também. Sempre disse para meu irmão que se ganhar na mega sena vou comprar roupas para aquelas coitadas das revistas que ele lê. Agora, depois de ler sua crônica, vou inserir o leite em pó de soja na cesta básica.

    kkkkkk, tem até bundinha. Ainda bem que usou o sufixo "inha". Giselle é tudo isso mesmo, tão linda que faz coisas pequenas parecerem grandes. Queria ser ela.

    Se me permite, vou protestar. Se essas mulheres são tão sem graça, porque queremos tanto ser iguais a elas. Por que?! Por que?!

    Beijo,
    Aline Mariano

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  2. Kledir, por favor não me jogue cabides. Estou contente com sua sensibilidade. Você falou em sua mãe, esposa e filha. Acredito que as ame de verdade. Parabéns por ter tocado numa questão tão séria (embora talvez nem tenha percebido, o que eu não acredito). Diversas meninas morrem em razão da bulimia e da anorexia, exatamente por desejarem se tornar "cabides". A discussão em torno de problemas, direitos e violência contra a mulher é meu trabalho e a violência contra a mulher muito me incomoda em razão de ter sido delegada de uma Delegacia de Mulheres durante vários anos. O texto que acabei de ler foi uma "deixa" para eu tocar num assunto tão importante. Não irei perder a oportunidade, por isso, desde já, peço desculpas por usar este espaço. O que você e demais visitantes lerão é um artigo por mim escrito, baseado em pesquisas e parte dele já foi publicado em periódicos da minha cidade. Vamos lá?

    DEZ MULHERES MORTAS POR DIA

    A violência contra a mulher ainda faz parte do cotidiano das cidades. Por fazer parte da vida das pessoas, tornou-se pouco comovente. Ainda sobrevive aquela idéia de que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”.

    Vivenciamos uma grande evolução tecnológica. Encurtaram-se distâncias, descobriram-se curas para doenças. A genética das plantas foi modificada e os cientistas conseguiram clonar até animais.

    A capacidade evolutiva dos seres humanos é inegável, mas a desigualdade continua presente em vários setores da sociedade. Algumas visões de mundo estão tão enraizadas que é difícil modificar, principalmente pelo fato de serem aprendidos e reafirmados ao longo da vida.

    Esta constatação é extremamente lamentável quando envolve a questão da violência contra a mulher.

    Sabia que 11% das brasileiras com 15 anos ou mais já foram vítimas de espancamento? Sabia que o marido ou companheiro é o responsável por 56% desses casos de violência? Mais da metade de todas as mulheres assassinadas no Brasil foi morta por seus parceiros íntimos (Heise). Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, constatou que a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil e mais de 2 milhões de mulheres são espancadas a cada ano por maridos ou namorados atuais ou antigos. Isso torna o lar, o local mais perigoso do mundo para a mulher.

    Lembram-se destes nomes? Daniela Perez, Sandra Gomide, Eloá Cristina Pimentel, e os casos mais recentes, Mércia Nakashima e Eliza Samudio. Todas foram mortas.

    Tais crimes, envolvendo mulheres conhecidas ou que se tornaram conhecidas em razão da repercussão dos casos, não são isolados. Na verdade, assassinatos contra mulheres acontecem todos os dias, sendo que nos últimos dez anos, dez mulheres foram assassinadas por dia no Brasil (estudo do Instituto Sangari-2010), sendo que mais da metade são praticados por maridos ou companheiros.

    Mesmo com todos os avanços, com a edição de leis que combatam a violência de todo tipo, como por exemplo, a Lei Maria da Penha, que traz diversas garantias e direitos, nota-se que há muito o que fazer, lembrando que tais medidas além de existirem no papel devem funcionar na prática e só alcançarão resultados se forem urgentes.

    Há quem diga que a “justiça tarda mas não falha”. Eu digo que a justiça que tarda já falhou.

    * Marcia Regina

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  3. Salvador Dali já tentou tornar as girafas mais úteis, dotando-as de gavetas em seu longo corpo, nem assim agradou a todos...

    De qualquer forma, sou contra circo com animais. Isto inclui os seres humanos. Tem coisa mais pouco aproveitável do que um desfile de moda?

    Parabéns Kledir, seu texto está cada vez mais apetitoso. Aqui estamos longe da subnutrição cultural sempre em moda. Abraços.

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  4. Kledir, vc tem razão. Eu acho que elas ficam assim para espantar os homens. Outro dia um amigo saiu com uma e na hora do abraço a costela dela furou o baço do guri.

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