TEATRO

                               
                               


Equipe da peça: elenco: Fabiana, Flavinha, Michel e Mamed, diretor Daniel Veronese, ass dir Franco, cenógrafo Alberto Negrin, produtores Sebas, Ariel, Ivone e Anna, ass imprensa Bianca, a turma animada do blog Mulherão - e eu, tradutor e adaptador





GORDA
de Neil Labute

tradução e adaptação Kledir Ramil
direção geral Daniel Veronese
cenografia Alberto Negrin

elenco
Fabiana Karla
Michel Bercovitch
Flávia Rubim
Mouhamed Harfouk


 Críticas



CRÍTICA - Lionel Fischer
"Gorda"
Divertida crítica ao preconceito

Como todos sabemos, vivemos acossados por múltiplas tiranias - sociais, econômicas, políticas etc. Mas também por outras, digamos, menos atreladas à dinâmica da História, mas sem dúvida de caráter extremamente nocivo. Nos tempos que correm, a imagem é tudo. E no caso específico da mulher, ela pode reunir dezenas de qualidades - morais, espirituais, intelectuais, dentre muitas outras - mas estará a um passo da desgraça se não for magra.
Trata-se, evidentemente, de uma completa estupidez, posto que oriunda da bizarra crença de que a magreza seria uma espécie de passaporte para a felicidade. E o modelo a ser seguido seria o das manequins, em sua maioria anoréxicas, deprimidas e de curta sobrevida em uma profissão que impõe medicamentos que aniquilam a saúde.
No presente caso, estamos diante de uma gorda assumida e feliz, que se apaixona por um jovem e belo executivo - sendo plenamente correspondida - e com ele inicia um romance, certa de que ele é diferente de todos os homens, já que despido de preconceitos quanto ao conceito de beleza em voga. E a platéia também embarca nessa ilusão, pois o dito executivo tinha um caso com uma colega de trabalho perfeitamente enquadrada nos padrões vigentes - bonita e MAGRA! - e a troca pela gordinha. No entanto, ele acaba não resistindo às pressões e piadas dos amigos, assume sua fraqueza e o romance naufraga.
Eis, em resumo, o enredo de "Gorda", do norte-americano Neil Labute, em cartaz noTeatro das Artes. O argentino Daniel Veronese assina a direção do espetáculo, Kledir Ramil a tradução e a adaptação, estando o elenco formado por Fabiana Karla (Helena, a gorda), Michel Bercovitch (Tony, o jovem e belo executivo), Fávia Rubin (Joana, a magrinha) e Mouhamed Harfouch (Caco, colega de trabalho de Tony).
O presente texto pode ser definido como uma comédia e como tal desperta muitos risos. No entanto, acreditamos que tais risos não são apenas fruto das muitas piadas e passagens realmente engraçadas, mas de uma espécie de manifestação do inconsciente coletivo da platéia, que, embora torça pela Gorda, certamente compactua com os preconceitos de que ele é vítima. Se assim não fosse, todos ririam menos e se indignariam mais. E quando se chega a um final melancólico, certamente a platéia fica triste, mas no fundo deve acreditar que o desfecho não poderia ser outro. Ou seja: somos todos, ou quase todos, descaradamente preconceituosos e certamente não aprovaríamos que um filho nosso, belo e bem sucedido, se unisse a uma mulher que norteia sua vida a partir de valores que não podem ser aferidos numa balança.
Quanto ao espetáculo, Daniel Veronese impõe à cena uma dinâmica simples, basicamente centrada na relação entre os personagens. E tal escolha se revela totalmente adequada, pois aqui o que realmente interessa está muito mais ligado às palavras do que a marcações mirabolantes. E os conteúdos propostos pelo autor afloram de forma irrepreensível, graças ao ótimo rendimento que Veronese extraiu do elenco.
Na pele da Gorda, Fabiana Karla exibe performance irretocável, plena de humor e humanidade. A mesma excelência está presente na atuação de Michel Bercovitch, que materializa com grande sensibilidade um caráter não isento de impulsos salutares, mas essencialmente fraco. Mouhamed Harfouch também brilha encarnando aquele americano típico - brincalhão, aparentemente parceiro e solidário, mas no fundo um canalha inteiramente dominado por abjetos preconceitos. Finalmente, Flávia Rubin também apresenta uma performance em total sintonia com a idiota a quem dá vida.
Na equipe técnica, consideramos de bom nível o trabalho de todos os profissionais envolvidos nesta oportuna empreitada - Kledir Ramil (tradução e adaptação), Graciela Platek (direção musical), Alberto Negrin (cenografia), Vanessa Lopes (figurinos) e Gonzalo Cordova (iluminação, aqui adaptada e operada por Marcelo Andrade).


Blog GORDA



CRÍTICA - ESTADÃO SP

COM O DEDO NA FERIDA


Você é uma pessoa preconceituosa? Não vale responder sem antes ter ido assistir à maravilhosa peça “Gorda” quanto pesa o amor, em cartaz no teatro Procópio Ferreira, às sextas e sábados 21hs30 e aos domingos às19h. Pra lá de imperdível.
O texto de Neil Labute é de um brilhantismo assombroso. Consegue mexer pra valer com cada um dos espectadores presentes. Não importa se são aqueles que riem de todas as piadinhas mesmo das mais pops, ou se são aqueles mais intelectuais que, a princípio ficam de pés pra traz, mas que ao final não conseguem deixar de vestir a carapuça. O homem é um espanto! Começou a carreira como dramaturgo, mas conseguiu prestígio mesmo através de cinema: às vezes como roteirista e outras como diretor de filmes como “Beth a Enfermeira” e de muitos outros. Por aqui no teatro foi encenado por Márcio Aurélio e interpretado por Antônio Fagundes em “Restos”, já bastante instigante, porém não tão provocativa como nesta obra.
A montagem mantém características da original assinada por Daniel Veronese, porém com co-direção de Franco Battista. Cenografia de Alberto Negrin, figurinos de Vanessa Lopes, iluminação de Tié Fabiano. Quem estranhar os nomes pouco conhecidos é porque se trata de uma co-produção Brasil/Argentina. No resultado final só a cenografia parece esquisita, mas é um detalhe sem grande importância. Em compensação os atores estão arrasando. Pra se ter uma idéia Michel Bercovitch (Tony) está concorrendo ao prêmio Shell do Rio por sua atuação, Mouhamed Harfouch (Caco) também teria competência para isso. Acontece que nunca são dois indicados pela mesma peça pois há sempre outros concorrendo com méritos. As atrizes Fabiana Karla (a Gorda) e Flávia Rubim (a magra) estão excelentes.
Por tudo o que foi dito, corra pra comprar seu ingresso. Eles merecem e você merece.
                                                                              Maria Lúcia Candeias
                                                                              Doutora em teatro pela USP
                                                                              Livre Docente pela Unicamp    

Um comentário:

  1. Kledir, como vai? Antes de tudo te digo que admiro seu trabalho artistico e sua veia literária. Parabéns! Entro em contato pois preciso de tua ajuda. Sou profa de artes cênicas de uma escola de periferia e estamos tentando fazer uma adaptação infantil de "GORDA". O problema é que não conseguimos o texto original completo. Seria possível você nos apresentar a fonte e contato que nos possibilite acesso ao texto?

    Desde já agradeço qualquer manifestação tua.

    Abraços

    Ana
    Contato:: a.c_silva@ig.com.br

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