Meu amigo Paul Ralphes é um grande sujeito. Nascido
e criado em Shrewsbury, cidade do interior da Inglaterra a poucos
quilômetros de Liverpool, estudou cinema e virou músico. Fez sucesso com a
banda Bliss e, em viagem promocional pelo Brasil, conheceu Rosana Ferrão. Se
apaixonou e ficou por aqui.
Rosana é uma escritora de talento. Com um texto leve
e divertido, é autora de livros e roteiros de sucesso, no cinema e na
televisão.
Do casamento de Paul e Rô, nasceu Dylan, um moleque
bacana que toca bateria, tem uma banda, já participou de gravações e lançou,
como escritor, um livro infantil em parceria com a mãe. Durante a sessão de
autógrafos de lançamento do livro, comentei com ele que, mesmo ainda tão novo,
já estava consagrado e perguntei o que mais ele poderia querer na vida. Me
respondeu confiante: “estou pensando em fazer um filme”
Voltando ao pai da família. Paul é um sujeito
educado, de fino trato e convivência agradável. Um verdadeiro gentleman inglês,
do tipo que religiosamente toma seu chá às 5 da tarde. Além de suas qualidades
artísticas como músico e produtor, soma-se ainda uma vocação para a culinária,
a qual tem se dedicado na intimidade, para deleite dos amigos.
Pois bem. No aniversário da Rô ele resolveu preparar
um jantar misturando a cozinha mexicana com a indiana. Uma temeridade. Mas o
que poderia ter sido um desastre, nas mãos do chef Ralphes se transformou em
uma deliciosa experiência gastronômica.
Para identificar cada prato na grande mesa da sala e
separar o que seria mais ou menos picante, Mr. Paul escreveu pequenos cartões
dando nomes aos quitutes. Ao final do jantar, encontrei-o cabisbaixo ao lado da
mesa. Estava triste porque ninguém havia percebido sua brincadeira. Com
refinado senso de humor, havia batizado um tradicional molho indiano a base de
yogurt e hortelã com o nome de Paperback Raita, uma clara alusão à obra de
Lennon & McCartney.
Tentei confortá-lo com o argumento de que somos apenas um bando de
ignorantes, gente tosca, embrutecida pelas pequenezas do dia a dia, sem
capacidade para apreciar sutilezas com esse grau de sofisticação e refinamento.
Tanto na arte culinária como em outras virtudes do espírito humano, entre elas,
o bom humor, a arte de enxergar graça, leveza e poesia onde a maioria vê apenas
um prato de comida.
Ele sorriu, agradeceu minha tentativa de apoio, mas
estava desolado. No próximo
jantar vou ficar mais atento aos detalhes.