O PAI INVISÍVEL (Editora Objetiva)


Depoimento do autor
 Aprendi a escrever de ouvido. Minha relação de amor com as palavras vem da infância. Eu adorava histórias e tinha uma curiosidade especial pela maneira como elas eram contadas.
A partir da adolescência comecei a fazer canções e essa foi minha escola. Escrever letra de música popular é um bom exercício de rigor literário. É preciso respeitar métrica, prosódia, rima... E mais, a coisa toda ainda tem que fazer algum sentido e ter um mínimo de beleza.
Começar a escrever prosa foi uma descoberta agradável, eu podia contar histórias sem muita preocupação com regras. A não ser as de gramática e de concordância. Talvez isso explique o bom humor e a despretensão do meu texto. Eu me divirto escrevendo.
Não tenho uma formação acadêmica em letras, fiz faculdades de Composição, Regência e, acredite ou não, Engenharia Mecânica. Por isso, digo que aprendi a escrever de ouvido. Gosto da linguagem das ruas, das gírias, do jeito que o povo fala. Desse nosso português brasileiro, cheio de expressões simpáticas e sotaques diferentes. E, apesar de não entender metade do que dizem, me fascina a nova língua dos adolescentes.
Eu escrevo o que ouço e ouço o que escrevo. Meu texto é de natureza oral, como as canções. Enquanto vou digitando no computador, fico escutando o som das palavras dentro da cabeça, no seu processo de encadeamento. É um vício que carrego. Por força do hábito, minhas frases saem sempre com um certo ritmo, uma certa musicalidade.
Comecei escrevendo para jornais, revistas, sites e fui parar na televisão, contando minhas histórias no Canal Brasil. Misturei ficção com realidade e criei um personagem que, no fundo, sou eu mesmo. Ou como me vejo. Um cara tentando acompanhar o ritmo acelerado do nosso tempo. Um artista brasileiro às voltas com a família, o trabalho, as lembranças de infância e, principalmente, os filhos adolescentes.
O Pai Invisível é um relato divertido desse meu cotidiano que, no fim das contas, é igual ao de todo cara que precisa criar filhos adolescentes nos dias de hoje.
“Nessa fase nebulosa, chamada de adolescência, você fala e eles não escutam. Passam por você e nem olham. Se olham, não vêem. Você desapareceu, ficou invisível. Virou o pai invisível. Ninguém sente a sua falta. Ou pior, só lembram de você quando precisam de dinheiro ou de carona”.
Invisibilidade não é ausência. Você está ali, o tempo todo, só não é notado. Em vez de sofrer com isso e ficar me lamentando, usei o bom humor como “mecanismo de defesa” e aprendi a tirar partido da situação.
“A vantagem da invisibilidade é que você pode observar sem ser observado. Para quem escreve, é um bom negócio. Para quem se preocupa em cuidar dos filhos, também. Pode-se estar presente, sem dar muito na vista”.
É uma maneira discreta de estar sempre por perto e passar segurança pra eles. Acho que é isso que eles esperam de nós.
Além do dinheiro e da carona, é claro.

                                                                                Julia, Kledir e João
 
                                                                                                                 foto por Bruno Veiga

  

O Pai Em Trânsito...                                                           ...Em Nova York

                                                                                                                                                   foto por Bruno Veiga


CONFISSÕES DE UM PAI ENTRE ADOLESCENTES
“O Pai Invisível” mostra a literatura divertida de Kledir Ramil

Fabrício Carpinejar*
Especial para o Estado

A dupla musical gaúcha Kleiton e Kledir soa como se fosse uma única pessoa. Difícil falar de Kledir sem lembrar do irmão Kleiton e vice-versa. Afinal, são 27 anos de união, com sucessos impagáveis como "Maria Fumaça" e "Vira Virou". Reza o folclore que no casamento de Kleiton, o padre perguntou se a noiva aceitava "Kleiton e Kledir" como marido por toda a vida.

Além da parceria, vencedora do Prêmio TIM 2006 de melhor CD na categoria Canção Popular, Kledir Ramil é cronista. E dos bons. De fazer chover risos no meio da noite.

Está lançando seu segundo livro, "O Pai Invisível" (Objetiva, 133 páginas). Após a estréia com "Tipo Assim" (RBS Publicações, 2004), Kledir aborda agora o universo dos filhos adolescentes e suas dificuldades de dialogar com o mundo de gírias, hormônios e abreviações. Decidiu não fazer uma antologia de crônicas, mas uma novela de crônicas. Trata-se de uma noveleta, a tratar do mesmo assunto, com peripécias e desventuras num ritmo frenético de confissão.

Com um tênue fio narrativo, uniu um feixe de vivências das diferenças da sua geração com a atual, combinando saudosismo com autocrítica. Não é o lamento de um velho argumentando que sua época era melhor, mas um pai tentando compreender as mudanças de comportamento com generosidade, sem comprometer a responsabilidade das decisões. Sua comicidade atenua a censura, seu amor acomoda a cobrança, sua veia patética anula o sermão. Alcança o raro equilíbrio das duas versões. Não é passivo, muito menos repressor. Suporta a liberdade democrática da maioria. Como é sempre minoria, obriga-se a acolher experiências com bichos de estimação, a começar com cágados gays, evoluir para hamsters, passar por periquitos, peixes e cachorros e terminar com coelhos. A ausência de espaço masculino é reverenciada de certo modo por Kledir, que procura espaço interior para compensar sua fragilidade.

Há um esforço de inversão de perspectiva, que torna tudo muito mais engraçado e apaixonante. Kledir age duplamente como tradutor: de seu relicário (como máquina de escrever e bolachões) para o público jovem, e dos comentários dos filhos no fotolog, blog e MSN ao público de sua faixa etária. Tanto que inclui os chistes da gurizada dentro do livro, funcionando como separação dos capítulos. Os filhos e seus respectivos colegas comentam as histórias. Por exemplo, Jubys deixa seu lembrete, sempre desaforado e brincalhão: "minha ideia eh qd passar no vestibular pedir pro meu pai uma viagem p europa. ele vai dizer q jah gastou td o dinheiro na festa de 15 anos. mas aih eu faço uma graça, lembrando qd eu era criança: "ueh, não tem dinheiro, paga com cartao" hehehe".

A invisibilidade do título corresponde à figura paterna, lembrada exatamente quando gostaria de ser esquecida, na hora de dar dinheiro ou buscar em festas, e esquecida quando gostaria de ser lembrada, nos mimos da rotina e na declaração afetiva. Parece que o pai está sempre de plantão, assim define Kledir, aguardando instruções. Um vigia de sua desimportância, à espera do tão sonhado reconhecimento, que tarda, mas chega, numa primeira fatia de bolo dedicada a ele pela filha na festa de debutante.

É precisamente sua discrição que ajuda o autor a desenvolver a picardia e enxergar os conflitos domésticos por cima, sem pender para um lado ou outro. Apesar de narrado em primeira pessoa, a decisão é meio de consenso, da terceira pessoa. Sobra para todos os personagens familiares, inclusive ele mesmo. Ocorre um tom nonsense, de cinema mudo, de muita expressão facial e gestos exagerados. As sentenças são carregadas de realismo: "Lei da vida. Você pegou a filha dos outros, alguém vai pegar a sua".

A prosa transita no terreno de identificação. É como se cada parágrafo fosse um cheque ao portador, endereçado aos problemas de estima dos casais modernos, que trabalham demais e sentem culpa da falta de tempo com as crianças. Kledir conta que tentou amenizar com presentes a distância de casa em decorrência das turnês. Inventou de comprar uma motoca, quase em tamanho natural, em loja de Nova York, para o filho. Depois do parto de carregá-la, o filho nem deu importância ao brinquedo, que enferrujou na garagem, contentou-se com a embalagem de papelão, que serviu de casinha durante semanas. O mais barato é o mais caro para imaginação.

"O Pai Invisível" realiza uma ponte entre a adesão juvenil de "Confissões de adolescente", de Maria Mariana, e a paródia refinada de "Família Brasil", de Luis Fernando Verissimo, se é que dá para comparar. Se o músico tem uma presença de palco, pode-se destacar também sua presença de texto, que não se esgota em caprichos e impertinências, e venta a brasa para pontos mornos do enredo. Traz do sotaque sulino a aptidão ao causo, à contação de grandes feitos, ainda que através de vexames. Em sua dicção, destaca-se a virilidade em aceitar constrangimentos e propagá-los como se ampliassem seu carisma. Narra quando o médico se enganou e o recomendou ao exame de ultra-sonografia vaginal ou quando passou a balela de que não poderia andar de aliança devido ao uso do violão.

O que ajuda na construção de identidades contraditórias e não menos felizes da última metade do século é a descrição de sua infância no interior do Rio Grande do Sul, antípoda perfeita da pressa de hoje, ansiosa por resultados, em que a popularidade teen depende da quantidade de amigos no Orkut. Lembranças das gafes das novelas ao vivo do rádio, do fiado no armazém, das compras dos produtos a granel, da privada do trem (um buraco que ia deixando tudo pelos trilhos), das turmas que quebravam vidraças e tomavam porre para amadurecer rápido. Irrompe uma pureza da evocação, em que a ingenuidade ajuda a comoção subir à garganta. Um exemplo é da empregada de sua meninice que se enfeitava para assistir o Jornal Nacional, jurando que o Cid Moreira a observava.

A relação bem-humorada com a esposa, que insiste em devolvê-lo para a sogra, completa o painel familiar. A mulher workaholic é capaz de telefonar para si mesma do celular para o residencial sem perceber ou encontrar, dos vagos minutos, intervalo para aprender mosaico e transformar a sala num imenso ateliê.

De pai invisível a autor cada vez mais visível, Kledir se apresenta como anjo da guarda, definindo com sensibilidade o cuidado filial, de quem salva como vocação e não precisa aparecer nos créditos.

* Fabrício Carpinejar é escritor e jornalista, autor de “O Amor Esquece de Começar” (Bertrand Brasil, 2006)


 Lançamento em New Jersey - com Roberto Lima e Kiko Salles


 Sempre um Papo - entrevista por Afonso Borges





Revista Época - por Adriano Silva, setembro, 2007





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Revista - Pais & Filhos 
 por Larissa Purvini,
novembro de 2007.  
                                                                                                          

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Release - Editora Objetiva
O Pai Invisível

Novo livro do músico e escritor gaúcho Kledir Ramil fala de forma divertida sobre os dilemas dos pais com seus filhos adolescentes

Qual pai já não foi levado à loucura com as festas de seus filhos adolescentes? E qual deles já não se desesperou com um boletim sofrível e as horas e horas na internet? E a rebeldia e falta de satisfação que seus moleques fazem questão de demonstrar?
Se no início de suas vidas os filhos dependem dos pais para tudo, quando chega a adolescência esquecem que o pai existe e a impressão é que ele se torna um ser invisível. Mas, na verdade, não é bem assim: volta e meia ele será lembrado nas situações em que gostaria justamente de ser esquecido – para aquela carona de madrugada, para bancar o cinema e o tênis importado, para levar os filhos e toda a galera naquele passeio que é a maior roubada.
Em O Pai Invisível, Kledir relata as várias situações cômicas e surreais pelas quais já se viu envolvido com os filhos adolescentes e relembra seu próprio tempo de garoto, quando a vida era bastante diferente e tudo parecia acontecer em outro ritmo. Num estilo espirituoso, o autor conta histórias engraçadas com as quais pais e filhos vão se identificar, pois certamente já viveram situações semelhantes.

Entrevista – KLEDIR RAMIL

1. Você é conhecido nacionalmente como músico, pelo trabalho ao lado de seu irmão na dupla Kleiton & Kledir. Quando você decidiu se dedicar também à literatura?
Aprendi a escrever de ouvido. Minha relação de amor com as palavras vem da infância. Eu adorava histórias e tinha uma curiosidade especial pela maneira como elas eram contadas.
A partir da adolescência comecei a fazer canções e essa foi minha escola. Escrever letra de música popular é um bom exercício de rigor literário. É preciso respeitar métrica, prosódia, rima... E mais, a coisa toda ainda tem que fazer algum sentido e ter um mínimo de beleza.
Há alguns anos, comecei a escrever prosa e foi uma descoberta agradável, pois eu podia contar histórias sem muita preocupação com regras. A não ser as de gramática e de concordância. Talvez isso explique o bom humor e a despretensão do meu texto. Eu me divirto escrevendo.

2. O livro traz diversas situações engraçadas que você viveu com seus filhos e sua mulher. O que o motivou a tornar públicas essas histórias? Você acha que muitos outros pais vivem situações semelhantes e podem se identificar com a sua experiência?
Acredito que sim. Eu me vejo como um cara comum, tentando acompanhar o ritmo acelerado do nosso tempo. Um artista brasileiro às voltas com a família, o trabalho, as lembranças de infância e, principalmente, os filhos adolescentes. O Pai Invisível é um relato divertido desse meu cotidiano que, no fim das contas, é igual ao de todo pai que precisa criar filhos adolescentes nos dias de hoje.

3. A diferença de gerações é um dos temas principais do livro. Na sua opinião, o que melhor caracteriza os adolescentes de hoje?
Acho que é a capacidade que eles têm de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Eu só consigo me concentrar em uma coisa de cada vez. Considero esse detalhe um avanço extraordinário da capacidade cerebral do ser humano e tenho certeza que essa garotada vai conseguir construir um mundo muito mais plural, aberto e cheio de soluções interessantes.

4) O que é mais difícil: ser cantor e escritor, ou ser pai?
Nada se compara à experiência de ser pai. É difícil, mas não no sentido de ser pesado. É difícil, porque não existe escola que ensine e o grau de responsabilidade é muito maior. Ao mesmo tempo, é uma realização de vida de valor incalculável.

5. Qual o seu conselho para os pais que desejam deixar de ser “invisíveis”?
Não façam isso! Não acho que seja um bom negócio ficar “visível”. Meu livro sugere exatamente o contrário, aproveitar a situação e entender que essa é uma fase que os filhos estão passando. “Nessa fase nebulosa, chamada de adolescência, você fala e eles não escutam. Passam por você e nem olham. Se olham, não vêem. Você desapareceu, ficou invisível. Virou o pai invisível. Ninguém sente a sua falta. Ou pior, só lembram de você quando precisam de dinheiro ou de carona”. Invisibilidade não é ausência. Você está ali, o tempo todo, só não é notado. Em vez de sofrer com isso e ficar me lamentando, usei o bom humor como “mecanismo de defesa” e aprendi a tirar partido da situação. “A vantagem da invisibilidade é que você pode observar sem ser observado. Para quem escreve, é um bom negócio. Para quem se preocupa em cuidar dos filhos, também. Pode-se estar presente, sem dar muito na vista”. É uma maneira discreta de estar sempre por perto e passar segurança pra eles. Acho que é isso que eles esperam de nós. Além do dinheiro e da carona, é claro.

SOBRE O AUTOR: Kledir Ramil é gaúcho, nascido em 1953. Consagrado na música com a dupla Kleiton & Kledir, despontou na literatura com o livro de contos e crônicas Tipo assim, que lhe rendeu elogios entusiasmados, prêmios e convites para apresentar suas histórias num programa do Canal Brasil e numa coluna no jornal Zero Hora.

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