Prostituta – da série Profissões

Prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Por isso mesmo é tão respeitada e cultuada. É um clássico.
Desde que o homem é homem, a mulher é mulher. O dito sexo frágil foi dominado e obrigado a servir ao macho, satisfazer suas necessidades e seus prazeres. Daí, quando precisou enfrentar o mercado de trabalho, a principal habilidade que elas haviam desenvolvido era exatamente essa, satisfazer necessidades e prazeres. A diferença é que estabeleceram um preço pelo serviço.
Assim como o cantor e o lutador de vale tudo, a prostituta só precisa do próprio corpo para mostrar seu talento. A não ser que o cliente tenha preferências sadomasoquistas e goste de brincar com correntes, chicotes e serra elétrica.
Para ser prostituta você precisa ter algumas habilidades manuais, como saber rodar uma bolsa. Também tem que conseguir se equilibrar sobre um salto alto e ser boa atriz, saber fingir gemidos, fazer beicinho e interpretar textos como “você me enlouquece”, “vai, vai, vai” e outros.
Por trás da profissional, no sentido figurado, sempre tem o cafetão, um cafajeste que administra o negócio. O cafetão é a 2a profissão mais antiga do mundo. Junto com ele surgiu o capitalismo e o conceito de mais valia.
A prostituição é tradicionalmente exercida nas ruas, onde as profissionais disputam espaço com os travestis, seres musculosos, de voz grossa, aparentemente do sexo feminino. Algumas prostitutas se organizam em uma espécie de cooperativa, uma casa com uma tia velha – chamada de Madame – que toma conta da bagunça e organiza o entra e sai da clientela.
Cada país, com sua própria idiossincrasia, desenvolveu um tipo característico de acompanhante. Na França havia a cortesã, uma devassa vip, que servia à corte e às altas rodas sociais. O Japão criou as gueixas, jovens treinadas para entreter os fregueses. No Brasil... bem, nossas profissionais elevaram o serviço à categoria de arte e enlouquecem os turistas europeus.
Uma das vantagens da profissão é que, por ser uma atividade informal, não precisa emitir nota fiscal. Por outro lado, não tem aposentadoria remunerada. Chega uma idade em que a clientela começa a sumir. Aí não tem jeito, é melhor pendurar as chuteiras, quer dizer o salto alto, e procurar outra coisa pra fazer.

3 comentários:

  1. "Conceito de mais valia é bárbaro".
    Mas uma crônica espetacular, como o livro todo.
    Amo ler e ouvir você.

    Sucesso!!

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  2. Naquele final de plantão, adentrou à Delegacia uma guarnição da Polícia Militar. Os policiais conduziam um senhor de sessenta anos de idade, cabelos grisalhos e aparentemente muito preocupado. Atrás dele, vinham outros policiais conduzindo quatro garotas, todas menores de idade. Perguntei sobre o que se tratava e o comandante explicou: “Olha, doutora, esse senhor aqui tem um bar e vários quartinhos no local. Quando lá chegamos, após uma denúncia anônima, deparamo-nos com estas garotas. Elas informaram que moram lá com ele já algum tempo, trabalham pra ele em troca de estadia e comida. Além disso, elas disseram que são obrigadas a se deitar com os clientes que visitam o lugar. Diante da evidente constatação dos crimes de CASA DE PROSTITUIÇÃO e RUFIANISMO, decidi conversar com as partes. As garotas mantiveram suas versões, sendo que o Senhor Evilásio, nome que jamais esqueci, além de confessar a prática do crime, argumentou que “mas, doutora, eu ajudo essas meninas, dou guarida, dou comê, banho, cama, faço por elas o que nem os pais fizero. Eu só peço pra elas alegra meus cliente. Só isso. Nadinha mais. Elas são muito bem tratada”. Ao ser dito a ele que seria preso em flagrante pela prática dos crimes mencionados, o mesmo, com toda inocência veio com essa pérola: “olha doutora, eu prometo pra senhora que nunca mais vou fazer isso. Já tem trinta anos que eu tenho aquele meu bar e várias meninas já passaram por lá. Eu nunca fui preso, por isso, eu te peço, dê essa oportunidade a esse velho”. Eu disse a ele: “É mesmo seu Evilásio ? tem trinta anos que o senhor faz isso? Pois é, então está na hora de o senhor descansar um pouquinho , né?”. Naquele dia precisei ficar na Delegacia mais quatro horas além do meu horário, mas lavrei o flagrante com todo o prazer do mundo. A meu ver, caro Kledir, os canalhas também envelhecem! Só para constar, de acordo com o nosso ordenamento jurídico prostituição não é crime. Crime é manter casa para esse fim. Prostituição também não é profissão, embora exista no Congresso Nacional vários projetos de lei visando transformar essa prática em atividade laboral.

    Abraços,

    Macinha

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  3. Sempre nos divertindo Kledir, adorei!
    Abraços, Thereza

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