Todo ano quando chega o Natal, nós, os seis irmãos, nos reunimos e damos um presente coletivo pra Dalva, nossa mãe. E, invariavelmente, sempre sai confusão. Ano passado começamos a conversar sobre um ombrelone e terminamos comprando cadeiras de praia.
Este ano me adiantei e abri um fórum de discussão sugerindo a compra de um aparelho de TV LCD, Full HD, para que ela possa se desfazer daquela de tubo, do século passado.
As manifestações foram as mais variadas. Um, malandro, queria ficar com o aparelho novo e repassar uma televisão usada pra mãe. Outro, concordava em participar, assinar o cartão com a dedicatória, mas se recusava a pagar a sua parte. Ora, 6 filhos devem pagar partes iguais, pelo menos é o que sugere o bom senso. O mais novo tentou aprovar um sistema de cotas diferenciadas, com o valor aumentando conforme a idade de cada filho. O mais velho sugeriu exatamente o contrário, um desconto progressivo e ainda uma alíquota de compensação para a terceira idade. Instalou-se uma discussão tão exaltada sobre divisão de bens e deveres familiares, que foi preciso chamar a brigada para restabelecer a ordem. No fim, cada um constituiu advogado, a decisão foi parar na justiça e não se chegou a um consenso. Conclusão, este ano não haverá presente coletivo.
Minha mãe é do tempo do rádio. Quando surgiram os primeiros aparelhos de televisão ela juntou as economias e, contra a vontade de meu pai, comprou uma Orbiphon de 20 polegadas. Preto e branco, cheia de fantasmas e com uma antena de alumínio que tinha dois chumaços de Brombril nas pontas. Depois, foi até as lojas Brasileiras, comprou um plástico com 3 listras coloridas, colou na frente do tubo de imagem e gritou: “pronto, já temos TV à cores!”.
Imaginei que para uma mulher como essa, que vem atravessando os séculos em plena forma e acompanhando tantos avanços tecnológicos, já era hora de ter uma televisão em High Definition. Dalvinha avança no tempo de uma maneira extraordinária. Há pouco, demos pra ela um computador. Apesar de um certo receio inicial, hoje envia emails, navega pela internet e fala com os filhos, os netos e os bisnetos através do Skype.
Outro dia conversamos sobre os readers que vêm substituindo os livros. Ela estalou a língua: “bem capaz!”. Por via das dúvidas, já que ela se adapta às novidades com velocidade espantosa, vou sugerir que no próximo ano o presente seja um iPad. Espero que haja consenso.
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