Diário de Bordo

SEGUNDA FEIRA, latitude incerta, longitude desconhecida
Acordei em alto mar com o sol batendo na cara. Tô com a boca seca. Eu não bebo, mas a sensação é de ressaca. O dia está amanhecendo e só consigo lembrar que ontem...

DOMINGO, dia anterior
Estávamos na Ilha Grande, na casa da minha irmã. Depois do churrasco, meu cunhado convidou todo mundo pra passear de lancha. Tentei argumentar que haviam bebido muito, mas fui voto vencido. Entupiram a lancha de gente, latas de cerveja e, não me pergunte como, um grupo de pagode.
Na Praia das Palmas resolveram descer pra dar um mergulho e comprar mais cerveja. Só sobrou o cara do pandeiro, que dormia atirado num colchonete, na proa. Ou seria a popa?
O pessoal resolveu fazer uma trilha pela mata e meu cunhado me pediu para levar a lancha até Lopes Mendes, a praia de mar aberto que fica do outro lado da ilha. Quando tentei explicar que nunca pilotei uma lancha, já haviam se mandado.
Só lembro que quando fiz a curva do Farol do Castelhano, dei de frente com um vento sudoeste vindo na minha direção em alta velocidade e comecei a rezar o Pai Nosso.

SEGUNDA FEIRA, de novo, as mesmas coordenadas já registradas
De volta para o presente. O sol que queimava minha cara aumentou, bem como o volume do ronco do cara do pandeiro. Procurei uma garrafa d’água, mas só encontrei uma lata de cerveja. Quente. Não tem tu, vai tu mesmo.
Olhei para estibordo - ou seria bombordo? - e só vi mar. Olhei pro outro lado, seja lá o nome que se dá pra isso, e também só enxerguei mar. Que exagero de oceano! Pra quê fazem um negócio tão grande assim? Não sei pra quê tanta água. E salgada.
Aquele sol na moleira e dois goles de cerveja quente me deixaram ainda mais perturbado. Foi quando o pagodeiro acordou:
- Olha aí gente! Deixa comigo! Solo de pandeiro!
Tentou levantar, cambaleou e vomitou no meu pé.
(continua)

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