Estava eu brincando de Facebook quando me chamou a atenção as
propagandas que aparecem ao lado direito da tela. Casualmente, todas sobre
assuntos que me interessam. Pensei cá com meus botões: “estou sendo mais
observado do que poderia imaginar”. Os caras sabem as coisas que eu gosto, o que
me interessa, o que compro pela internet, conhecem meus hábitos e me oferecem
mais do mesmo. Com desconto. Sabem com quem converso, sobre o quê, por quanto
tempo e qual minha orientação sexual. Apesar de, às vezes, me chamarem de Sra
Kledir.
Botei minha mulher na parede pra saber se ela estava vendendo
informações confidenciais a meu respeito. Ela diz que não. Meus filhos também. Estou
desconfiando de José, o quadrúpede. Nunca se sabe, tô ficando paranóico. Estão vasculhando
minha vida através da rede.
Fiquei definitivamente com um pé atrás, em relação a tudo isso, quando
descobri que o seriado “House of Cards” foi criado pela NetFlix a partir do monitoramento do
gosto dos consumidores na internet. NetFlix é uma locadora online que quebrou a BlockBuster nos EUA.
Claro, quem é que vai sair de casa para ir buscar filme no meio da noite se,
por uma bagatela mensal pode ter milhares de títulos à disposição, em HD, com
um simples clique? O mais assustador é que a coisa funciona. O seriado é bom. É
mais ou menos como diz a Xodó, minha comadre, quando alguém elogia sua comida:
“Ué... tem que estar gostoso, só tem coisa boa”.
Esse é o detalhe interessante de "House of Cards". A série foi
criada a partir da observação das preferências dos consumidores: ator, atriz,
diretores, roteiristas, assunto, gênero. Produziram um seriado ao gosto do
freguês e, é claro, virou um sucesso. Apesar dessa produção “receita de bolo”,
o resultado é bom mesmo, artisticamente falando.
Com
essa história de estarmos cada vez mais online, assistindo a tudo em streaming,
o "Sistema" - novo Deus do nosso tempo - é capaz de observar cada
movimento e criar estatísticas precisas. E a partir daí, é possível produzir filmes/vídeos/músicas sem
muita margem de erro. Outra experiência desse tipo são os livros escritos a
várias mãos, com uma fórmula estabelecida a partir do monitoramento dos hábitos
dos leitores, via e-book. Eles sabem o ritmo de leitura, preferência de gênero,
tipo de enredo, onde a história engasga e ainda pegam as tuas anotações de pé
de página e compartilham com o mundo todo.
Coisa de louco esse mundo em que estamos vivendo. Como se já não bastasse o
Barack Obama bisbilhotando meus emails.
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