FLOR DO LÁCIO

Nossa Língua Brasileira é filha da Portuguesa. Oficialmente isso não existe, mas é assim que eu sinto, é isso que eu ouço pelas ruas, uma linguagem muito nossa, própria do Brasil. A Língua Portuguesa, por sua vez, deriva do Latim Vulgar que era falado no Lácio, uma região da Itália.
O fato de ser originada de uma linguagem do povo me deixa à vontade, pois tenho me aventurado pelo mundo da literatura sem ter uma formação acadêmica. Sou um moleque de rua, um compositor de música popular. Comecei a juntar palavras para encaixar nas melodias que soavam na minha cabeça e essa brincadeira virou minha profissão. Depois de anos escrevendo canções, acabei desenvolvendo por nossa língua um amor tão grande que me deu coragem para invadir o terreno da prosa. E comecei prudentemente pela crônica, que é dentro da literatura a forma mais simples de todas. Tão simples que até um cantor de rádio é capaz de conseguir.
A expressão “Flor do Lácio” tem sido usada para simbolizar a nossa língua. Vem do soneto “Língua Portuguesa”, do poeta Olavo Bilac, que nasceu em 1865 e se foi em 1918. O primeiro verso diz: “Última flor do Lácio, inculta e bela”, se referindo ao nosso idioma como a última língua derivada do tal Latim Vulgar falado no Lácio. O termo "inculta" faz menção ao fato de ser uma língua do povo, diferente do Latim Clássico, que era usado pelas classes superiores. Ao mesmo tempo, conseguia ser "bela", apesar de sua origem humilde.
Imagino que você deve saber recitar de cor o poema de Bilac, mas caso tenha faltado à aula nesse dia, anota aí:

Última flor do Lácio, inculta e bela
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

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