Ombrelone

Minha família entrou em crise no Natal passado. Somos 6 irmãos e resolvemos dar, em conjunto, um presente para nossa mãe. Dentre as várias sugestões, alguém apareceu com a idéia de uma mesa de jardim, coberta por um “ombrelone”. Aí começou a confusão.
“Ombrelone” é um tipo de guarda-sol e a palavra está na moda no linguajar de decoradores e arquitetos. Imagino que vem do Latim, língua mater da civilização ocidental que tem sido sistematicamente atropelada pelo idioma de Shakespeare. Talvez por isso, alguém comentou que a palavra seria um anglicismo, uma corruptela de “umbrella”. Não se sabe se a afirmação tinha um fundo de verdade ou era apenas para tumultuar a conversa. Como tenho uma cunhada que é professora de lingüística, com PhD, mestrado e outros títulos, o debate acalorado cresceu em volume e temperatura. Ajudado pelas garrafas de cerveja.
Só pra botar mais lenha na fogueira - tudo o que sei de italiano é a letra da canção Dio Come ti Amo - levantei a hipótese de que “ombrela” na língua de Federico Fellini quer dizer “ombro”, parte intermediária do corpo humano, situada entre o braço e o pescoço, cuja única função é servir de suporte para o casaco. “One”, por sua vez, é o nome em inglês para o primeiro dos números arábicos. Os árabes, como se sabe, invadiram a Península Ibérica e Foz do Iguassu. O resultado do meu raciocínio foi então: “ombrelone, o homem de um ombro só”. Quase fui linchado.
Alguém tentou botar ordem na bagunça e estabeleceu uma mesa redonda, para um debate mais aprofundado. Concordei com a proposta,
desde que a mesa tivesse um “ombrelone” jogando sombra sobre as cabeças, não sobre as idéias. E fui além, sugeri que a mesa fosse presidida por minha irmã psiquiatra, que além de suas capacidades intelectuais, é pessoa experimentada no assunto, já que é a feliz proprietária de um “ombrelone” com vista para o rio Guaíba. Abriu-se então uma discussão sobre em que posição deve sentar um presidente em uma mesa redonda, já que não tem cabeceira. Aproveitei para dizer que não posso garantir que o Guaíba seja um rio, pois há controvérsias. E também não saberia afirmar se Iguassu é com 2 Ss ou com C cedilha.
No meio da confusão, chegou uma das crianças e perguntou: “Porque não param de brigar e compram um forno de microondas pra vó?”.

5 comentários:

  1. Adoro suas crônicas!! Você tinha que publicar pelo menos um livro por ano.



    Aproveitando: um conhecido meu gravou uma versão para "Paixão". Espero que goste.
    http://www.youtube.com/watch?v=VlGfUFzH0Os&playnext_from=TL&videos=AmPEkQrSLik&feature=sub

    Beijos paulistas!

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  2. Ri sem parar! Faz tanto sol assim em Pelotas para um ombrelone criar até questões filosóficas?

    Sobre o "Iguassu", há 3 maneiras corretas de escrever: Iguassu (em inglês de "Iguassu Falls", ou seja, dono da verdade); Iguaçu (em português, porque se a catarata não é só nossa pelo menos o "cedilha" é e massageia nosso ego pouco patriota); Iguazu (em castellhano porque argentino gosta de inventar para parecer chique). =) Daí você escolhe o que mais se adapta a sua situação rsrs.

    Beijão!
    Aline

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  3. Kledir!!!!

    Viva! Vc escreveu e eu adorei como sempre: uma delícia o seu "ombrelone"!
    Muitas saudades suas e do Kleiton, mas sei que logo estará nos divertindo novamente com suas crônicas...
    Sucesso grande e muitas alegrias hoje, 24,no Teatro Rival do Rio.
    Até querido...
    Em tempo: adorei colorido novo do blog, mais alegre!
    Bjs,

    celeste.

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  4. Recadinho para a Beth,

    Querida, fui toda ansiosa ao Youtube para ver a versão do seu amigo para a linda "Paixão", do Kledir, mas recebi a informação de que o vídeo solicitado ainda não está disponível. Pena.
    No aguardo de novas informações o meu abraço,

    celeste.

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