Eu não sou supersticioso, mas por via das dúvidas sempre sento na mesma poltrona quando assisto jogo da Seleção Brasileira. E cultivo alguns hábitos, mais pela questão ritualística do que qualquer outra coisa. Como certos jogadores, só entro na sala com o pé direito e faço o sinal da cruz.
Meia hora antes de começar o jogo, preparo o chimarrão. A chaleira é a de sempre. A mesma cuia, a mesma bomba e a erva tem que ser da mesma marca. “Por si acaso”, como diriam os hermanos. O primeiro mate só pode ser tomado depois do apito inicial, faz parte do ritual. A temperatura da água é levemente acima do normal, o que me dá a sensação de que o nosso time vai dar um calor no adversário. A roda de chimarrão deve girar sempre em sentido anti horário. São fundamentos sagrados, que devem ser respeitados.
Costumo usar a mesma calça, a mesma cueca, o mesmo par de tênis e, detalhe fundamental, a mesma camisa do Esporte Clube Pelotas, que além de ser o meu time de infância, gosto de imaginar que foi a camisa que inspirou a amarelinha da Seleção Brasileira. Apesar de Aldyr Schlee, o criador, meu conterrâneo, ser torcedor do Xavante e não do Áureo Cerúleo.
O Hino Nacional, canto sempre em pé com a mão no coração (ou vice versa). Sei a letra inteira, sem errar. Um erro na letra do hino pode ser fatal.
Outro dia, assisti ao jogo Brasil X Chile com um grupo de amigos. Uma das minhas amigas estava nervosa e resolveu levantar: “vou dar uma volta. Acho que tô dando azar”. O amigo que estava a meu lado, observador perspicaz do espírito humano, comentou rindo: “Quanta pretensão, achar que és capaz de influenciar o resultado do jogo. Tu não tens tanto poder assim.”
Não sei, não sei. Nessas horas lembro do Uri Geller, aquele paranormal que entortava talheres com a força do pensamento. Tudo é possível. “No creo en brujas, pero que las hay, las hay”. Na dúvida, acho que cada um tem que fazer a sua parte.
Dias depois, aconteceu então o jogo contra a Holanda. Um desastre, uma tragédia. Preciso confessar uma coisa: eu fui o responsável pela derrota. O primeiro tempo estava tranqüilo, tudo corria bem, até o Felipe Melo fazia lançamentos. Foi aí que eu me descuidei. Não dá pra bobear. No intervalo resolvi virar o mate, que já estava meio lavado. Eu nunca viro o mate no intervalo de um jogo, dá azar. É melhor fazer um novo. Mas naquela sexta feira fatídica eu estava confiante, considerando que o jogo já estava ganho. Relaxei, virei o mate... e o jogo virou. Culpa de quem? Culpa minha.
Não dá pra brincar com essas coisas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
hahahaha. Se cada um assumir sua parte da culpa, fica mais leve, rsrs. Adoro te ler. Um abraço, sua fã. Rose
ResponderExcluirAh não. Eu sei que a culpa foi minha, pode ficar tranquilo. Toda vez que não estou de muita torcida o time vence. Só de desviar o olhar da tela que "fazemos" gol. É tiro e queda. Esse último foi o único que prestei atenção, comi os dedos e xinguei tudo que é jogador. No momento do gol do Brasil estava atendendo à chamados da natureza, pois é, sou a rainha de ver os repetecos. Torça para que eu não torça com convição pelo Inter na Libertadores, tá? Se não, adiós colorado.
ResponderExcluirSeus rituais são ótimos, não os perca por uma perda, pode dar azar. rsrs
Beijão, me divirto muito aqui. É bom tê-lo de volta ao blog.
Aline Mariano, vulgo: Tua Fã.
Puxa, então o culpado não foi o Felipe Melo? Nem o Dunga? Nem o Kaká? Já estava com uma raiva deles... Mas vc eu perdoo, não dá pra ficar com raiva de uma pessoa que me encanta com seus textos. Continue com este seu jeito de torcer. Preciso te confessar: tenho os pés frios! Acho que a culpada fui eu.
ResponderExcluirContinue tbem a nos presentear com seus textos.Um abraço.
Stella
Então são dois gaúchos os culpados pela perda, tu e o Dunga. Brincadeira, amo o Dunga e achei uma sacanagem o que estão fazendo. Aliás, nem Felipe Melo é culpado, por maiores que fossem as besteiras feitas por ele em campo. Afinal, havia mais jogadores ali e parece que a imprensa sempre quer encontrar um culpado. É por isso que prefiro ver os jogos do Inter do que do Brasil. Apesar da imprensa sempre puxar para o lado dos times lá de cima, imagino que o Inter é o Davi que vence o Golias. Muito bom te ler, abração!
ResponderExcluirMas Bah! Sabes de uma coisa? Então, a culpa foi completamente minha...sério mesmo. Fiz quase tudo isso, do meu jeito, claro, com as minhas manias e "un montón de cositas más". Até agora deu certo he he he para o lado da parte maior do meu coração...mi Uruguay querido!! Pior é que amanhã nem vou tentar fazer, sei que já chegamos ao final da copa...será???humm Por vias das dúvidas...ARRIBA.... BESITOS! Adoro passar por aqui!
ResponderExcluirQue nada gente, o culpado foi meu guri. Ele só se lembrou de colocar a camiseta depois do jogo começado. Chorou muito e disse que nunca mais vai assistir jogo do Brasil porque ele dá azar. Tadinho, ele só tem 9 anos. bjs da também fã: Kleide
ResponderExcluirPeraí! Desviando um pouco o assunto. O que é virar o mate? Sei o que é mate lavado e tudo, mas essa me escapou. Alguém pode explicar? rsrs
ResponderExcluirBeijos!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluiradorei
deu pra ti...
Aline,virar o mate é vc passar a erva pro outro lado da cuia.
ResponderExcluirDigamos que,quando um lado tá muito usado,passamos pro outro,rss
Kledir, sempe um quadro(e ai quem não é pelotense não vai entender)ler as tuas crônicas .
Deixo uma sugestão,ao conterrâneo; date-as.
bjos
...testando...1 - 2 - 3. ...testando. Oh! meu querido,não se sinta culpado não. A culpa não foi sua. Tenha certeza disso. Se você está se sentindo culpado é porque levou a sério esta história de Copa do Mundo de Futebol, não é? Olha só, gosto muito de escrever e escreví algumas linhas sobre o assunto e mando pra você. Abraços,
ResponderExcluirCOPA
Vivemos um momento esportivo que paralisou a vida de milhões de brasileiros. A Copa do Mundo. Confesso que me aborreceu o clima de patriotismo exagerado. A Copa sendo assunto de todas as revistas, jornais e a TV.
Percebi que muitos brasileiros viveram somente em função da Copa. E, a TV aproveita essa que é a chamada “paixão nacional” para fazer reportagens caprichadas. Matérias sobre os jogadores apresentadas no jornal como se fossem produções hollywoodianas.
Futebol é só esporte e ponto.
Claro que esse evento tem alguns efeitos benéficos, a união com os amigos e a família para assistir os jogos.
O que vimos é que a mídia e as pessoas acabaram se deixando paralisar por ela.
Perdemos. É fato. Mas se ganhássemos, qual seria a influência do resultado sobre nossas vidas?
O prazer que provocaria a vitória seria uma fonte de alegria, principalmente num país como o nosso, carente de bons exemplos. Mas não realizaria mudança alguma. As mudanças só ocorrem quando agimos, quando vamos atrás de nossos sonhos, quando direcionamos nossos objetivos e quando percebemos as oportunidades que batem às nossas portas.
O ideal é que as pessoas refletissem sobre o verdadeiro papel que esse tipo de entretenimento representa, e não mais permitissem que suas vidas ficassem paradas por causa da Copa, das Olimpíadas ou qualquer outro tipo de evento do gênero.
Penso que dedicar o tempo em atividades que possuem a capacidade de modificar o rumo de nossas vidas ou da vida de outras pessoas, exercitando nossas virtudes pessoais é muito mais produtivo e não gera frustrações, como ocorreu.