CANTOR - da série PROFISSÕES

Cantor é uma das melhores profissões do mundo. Aparentemente o cara leva a vida na flauta, cantando amenidades, recebe aplausos, aparece na TV, distribui autógrafos e ainda ganha pra isso. Só precisa fazer em público aquilo que qualquer um faz no chuveiro. Com a diferença de que, durante a apresentação, é recomendável que esteja usando algum tipo de roupa.
Não vou entrar aqui nos detalhes dos bastidores do show business para não desmistificar o glamour que envolve a profissão. Afinal, como qualquer outra atividade, o ambiente fora do proscênio reflete toda a erosão de valores do mundo de hoje. Se você não é capaz de correr todos os riscos para se impor com dignidade nesse mercado de trabalho, é melhor ficar cantando no chuveiro. Agora, se você tem talento e estômago, e sabe que só cantando vai se realizar como ser humano, então não tem volta. Você foi picado pela mosca azul. Termine o banho, se enxugue, vista uma roupa e vá pro palco.
Uma das grandes vantagens da profissão de cantor é que não precisa carregar instrumentos. As cordas vocais já vêm como acessório no pacote, no dia em que se nasce. Outros músicos, como o contrabaixista, não têm a mesma sorte. Em compensação, podem tomar sorvete e bebida gelada.
Ninguém sabe muito bem de onde veio essa mania que o homem tem de entoar melodias. Dizem que na época das cavernas ele queria imitar os passarinhos, mas hoje eu me escuto cantando e não consigo identificar a relação entre uma coisa e outra. Algum elo se perdeu pelo caminho.
Cantar é uma atividade aeróbica, ótima para a saúde. Durante um espetáculo, você faz uma hora e meia de respiração forçada. Só precisa de um pouco de oxigênio, combustível que se encontra em qualquer lugar, menos na cidade do México e no centro de São Paulo.
A maior dificuldade para um cantor é conseguir explicar para seus próprios filhos que aquilo é um trabalho. Certa vez, meu filho me pediu uma carona. Era 5a feira, dia de futebol com os amigos. No caminho pegamos o Michael, o João Paulo, o Felipe, o... O carro virou lotação, com uns sentados por cima dos outros. Quando chegamos no Clube dos Macacos, o moleque virou pra mim e mandou: “Aêee Dad. Tipo 5 horas você pega a gente aqui, valeu?”. Tentei uma negociação: “Cara, eu trouxe todo mundo, numa boa. Agora, pra voltar, vocês podiam combinar com outro pai, assim a gente se divide...”. E ele respondeu na lata: “Não dá. Os outros pais trabalham!”.

6 comentários:

  1. Querido,

    Claro que não dá pra dizer que a profissão de cantor é uma atividade como outra qualquer.

    Não é!

    Penso que quem a escolhe traz dentro de si um grau de sensibilidade e criatividade muito acima do tido como normal.

    Na profissão que abraçou, inexistindo talento e dom é quase impossível sobreviver. Vemos por aí muitos que se aventuram, aparecem e desaparecem com a mesma rapidez. Somente os bons e talentosos permanecem trinta, quarenta...e todos os “entas” que vierem. Assim como vocês que trazem na alma, no olhar, na voz e na mente um mundo lindo e mágico, onde contam histórias, cantam e encantam milhares de pessoas, tocando profundamente seus corações. O porta-voz da música de qualidade não pode e não será qualquer pessoa.

    Por isso, que todos adoram o que vocês fazem. Vocês brincam com as palavras, sem medo de serem felizes. Seu nome, Kledir, devia ser felicidade, pois é isso que nos dá de presente. Visitar seu blog, assim como o do Kleiton, é fazer uma viagem tranqüila, gostosa, cultural, sem atropelos e cheia de mistérios e alegria. Como vocês conseguem extrair lá de dentro toda essa energia que nos contagia, hein?

    Forte abraço,

    Marcinha

    ResponderExcluir
  2. Kledir, agora tocou em um assunto que me identifiquei, se me permite vou concordar e protestar pacificamente. Quem tem uma profissão como a sua de cantor e compositor só é respeitado quando tem fama. Esquecem que para chegar onde está foi preciso muito estudo e prática, digo suor mesmo. Popularidade e glória são consequências e não objetivos princpais. Quando me perguntam qual é minha profissão digo: cantora, chef, e professora de inglês. É inevitável que respondam que cantar é hobby, ensinar inglês é "bico" e como não trabalho em cozinha, faço consultoria, a gastronomia é bico também. Tenho que mostrar os diplomas e licenças para convencer. Agora faço curso superior de Design de Interiores e estão me chamando de decoradora, ou seja outro bico kkkkkk.

    O engraçado é que já ouvi um colega meu dizer: "não estou trabalhando mas dou aula de inglês". Essa coisa pega hehehe.

    Como sempre, ótima crônica.
    Beijão,
    Aline

    ResponderExcluir
  3. Pois por isso eu invento de cantar, também... pelo menos "não pesa tanto" quanto o contrabaixo!!

    Mas... o que tu fazes mesmo, como profissão?
    :P

    Adorei!!

    Beijocas!!

    Aninha Freire

    ResponderExcluir
  4. Aline,

    Perdoe-me pelos excessos. Quando falo dos meninos fico empolgada, afinal, coisas de fã...

    Agora, concordo com você. Tenho consciência que tem muita gente boa e que não consegue um lugar ao sol, apesar dos estudos intensos, horas furtadas do convívio com a familia. Sei que para se alcançar um objetivo, seja ele qual for, é necessário muita inspiração, transpirãção e também...sorte! Este último requisito é que é o problema: Estar no lugar certo, na hora certa, encontrar a pessoa certa e o anjo passar na hora certa...não é todo mundo que consegue. Mas, pelo que vejo, você além de estar buscando, correndo atrás, estudando, não desistindo, já é dotada de muita sorte. Olhe ao redor. Estou certa que a sua hora vai chegar. Gosto muito daquela frase que diz "o que é teu por direito divino, chegará no momento oportuno". Tenha fé e firmeza de ânimo. Não desista!!!

    Beijos,

    Marcinha

    ResponderExcluir
  5. Marcinha,

    Valeu pela força guria!

    O que quis dizer com o "protesto" hehe, é que algumas profissões não são muito reconhecidas por serem diferentes, sei lá. As vezes acho graça disso pois o importante é estar satisfeito a cada passo que dá rumo ao seu objetivo, chegando lá ou não. Kledir, Kleiton e outras pessoas servem de inspiração mas não de exemplo. Na minha opinião o exemplo deve ser a gente mesmo, com os erros e acertos.

    Como o próprio Kledir costuma dizer: "Vamo que vamo!".

    Beijão,
    Aline

    ResponderExcluir
  6. Certa vez vi no Entrelinhas, da TV Cultura, um grupo de escritores que faziam piadas da própria profissão do tipo:
    "_O quê você faz?
    _Sou escritor?
    _Sim, mas qual a sua profissão?"

    Jefhcardoso do
    http://jefhcardoso.blogspot.com

    ResponderExcluir