Médico – da série Profissões

Medicina é um sacerdócio. É só pra quem tem vocação e estômago. O grande teste é a primeira aula de anatomia. Se você conseguir assistir sem enjoar, pode seguir em frente.
É uma profissão muito difícil, você não tem hora pra nada. Domingo, almoço em família, toca o celular e você tem que sair correndo. A não ser que compre sua própria clínica, contrate uns residentes e bote os caras pra trabalhar. Residência é uma espécie de purgatório por onde todo médico precisa passar antes de chegar ao paraíso do consultório próprio e poder ser chamado de “doutor”. É tipo um estagiário, que não tem direito a dormir, vive fazendo plantão e vira noites distribuindo analgésicos e antitérmicos.
A medicina tem várias especializações. Se você brincava de médico quando criança e gostava de examinar as meninas, pode fazer clínica geral. Se costumava arrancar asa de passarinho e cortar minhocas com o canivete, eu sugiro que faça cirurgia. Psiquiatria é pra quem gosta de ficar ouvindo a conversa dos outros. Traumatologista pra quem vivia desmontando as bonecas da irmã. Agora, se você quer um título grandioso pra botar na porta do consultório, faça otorrinolaringologia.
Um bom médico é aquele que impõe respeito e confiança. Para isso deve usar óculos, um estetoscópio pendurado no pescoço e uma caneta de boa qualidade. O exame clínico em consultório é muito importante, psicologicamente falando. Você manda o paciente tirar a roupa, o que já deixa o coitado fragilizado. Aí, dá uma olhada no material torcendo o nariz, com um olhar preocupado e mede o sujeito com o aparelho de pressão, a balança e o tal estetoscópio. Se até aqui o paciente estava em dúvida sobre sua saúde, a partir daí ele começa a ter certeza de que está muito doente. E é capaz de tomar qualquer coisa que você receitar com a sua caneta de marca.
Medicina é uma profissão muito respeitada e sempre vai ter futuro, as pessoas adoecem cada vez mais. A vantagem é que já existe remédio pra quase tudo. Acne, infecção, pressão alta... até disfunção erétil crônica já estão resolvendo. Só, pelo amor de Deus, não vá confundir os comprimidos.
Se você seguir essa carreira e um dia aparecer em seu consultório um paciente com processo alérgico, seja sincero com ele. Diga que você é capaz de aliviar os sintomas, mas infelizmente o que ele tem pertence ao mundo nebuloso das coisas sobrenaturais e cura mesmo só na próxima encarnação.

2 comentários:

  1. Estávamos, meu marido e eu no consultório da Doutora Gilda. Decidimos levar a Sophia, minha filhinha até lá, em razão dela, com quatro meses, ainda encontrar-se ictérica, ou seja, amarelinha. Aguardávamos a análise dos exames, uma vez que Sophia já havia sido examinada.

    Doutora Gilda Porta, maior especialista em doenças de fígado infantil do Brasil, olhou-nos e sem escolher palavras decretou “olha, sua filha possui Atresia de Vias Biliares, uma doença muito grave, sem tratamento e sem cura. Ela irá morrer se não for submetida a um transplante de fígado”. Imagine, eu não acreditava no que ouvia, meu chão se abriu e a impressão que tive foi de que tudo acontecia em camêra lenta. Aquelas palavras soavam repetidas vezes aos meus ouvidos, como um eco. Olhei para o Salomão, meu marido e desabei a chorar. A idéia que eu tinha de transplante era muito ruim e desvirtuada, pois lembrei-me das diversas pessoas que aguardam em filas de espera e acabam morrendo sem o órgão.

    A doutora, então, anunciou “mas, tem uma boa notícia. O fígado é um órgão que pode ser transplantado “inter-vivos” e a compatibilidade é apenas sanguínea, ou seja, se um de vocês possuir o mesmo tipo sanguíneo poderá doar parte do fígado a ela. E mais, o fígado é o único órgão que se regenera”. Tais palavras trouxeram alento, mas não abrandaram a dor que destruía meu coração. Eu não entendia o que tinha feito de errado. Nós, mães, sempre achamos que deixamos de fazer alguma coisa. A Sophia era uma criança alegre já aos quatro meses, sorria bastante, embora não se alimentasse bem e não dormisse bem. Lembro-me que meu marido e eu revezávamos para ficar acordados. Chorava muito e depois da descoberta da doença é que entendemos o motivo.

    Em um mês todos os exames foram feitos. Salomão e eu éramos compatíveis e ele decidiu doar parte de seu fígado. A cirurgia foi feita no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo com a equipe do Doutor Paulo Chap Chap. A cirurgia durou mais de dez horas e foi um sucesso. Ambos, meu marido e Sophia estão ótimos. Ela leva uma vida normal como qualquer outra criança.

    Decidi contar esta história, aproveitando o assunto que tratou, “médico-série profissões”, para alertar às pessoas que nem todo médico é gente. Salvo a maioria das exceções, existem muitos que são açougueiros travestidos de médico, que não estudam, não se atualizam, não sentem amor pelo próximo e pouco se importam com a dor dos outros, condição, a meu ver, “sine qua non” para escolher tal profissão. Antes de descobrir a doença de Sophia eu já havia a levado a dois pediatras que mandaram dar banho de sol, apesar dela estar com a barriguinha grande e amarela. Ela perdeu a oportunidade de realizar uma cirurgia chamada “procedimento de Casay”, que poderia evitar o transplante, ou seja, impedir que seu fígado fosse jogado na lata do lixo. Mas, esta cirurgia somente possui 20% de dar certo se realizada até os dois meses de idade, o que já havia se passado, graças aos médicos ficarem dizendo para dar banho de sol. Confesso que sou revoltada com isso! Então, aqueles que estiverem lendo, não aceitem uma única opinião, ouçam outros médicos e procurem o melhor. Meu marido, apesar de ser médico, também acreditou nos colegas que atenderam. Fico imaginando um leigo...a criança teria morrido como acontece todos os anos. Mas, agora, o importante é que ela está bem e também já tem um irmãozinho para lhe fazer companhia, o Marquinhos. Por isso, Kledir, que larguei minha profissão de delegada de polícia e somente voltei a trabalhar este ano, agora como advogada, quando a Sophia foi liberada para freqüentar a escolinha. Quando deixei o hospital, sai com duas folhas de medicamentos e não dava para confiar em babá. Minha vida foi adiada, mas valeu a pena.

    Abraços,

    Marcinha

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  2. Olá, blogueiro (a),
    Salvar vidas por meio da palavra. Isso é possível.
    Participe da Campanha Nacional de Doação de Órgãos. Divulgue a importância do ato de doar. Para ser doador de órgãos, basta conversar com sua família e deixar clara a sua vontade. Não é preciso deixar nada por escrito, em nenhum documento.
    Acesse www.doevida.com.br e saiba mais.
    Para obter material de divulgação, entre em contato com comunicacao@saude.gov.br
    Atenciosamente,
    Ministério da Saúde
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