No olho do furacão

Novos estudos acabam de comprovar aquilo que já se sabe há muitos anos: a mão do homem está por trás das alterações climáticas do planeta. Estamos todos assustados com as consequências do aquecimento global, as tragédias estão chegando a todos os lugares.
Outro dia passou um furacão por Pelotas, minha cidade natal. Furacão e terremoto era o tipo de coisa que só se via no cinema, assim como a Marilyn Monroe. Uma das razões de eu ter saído de Pelotas ainda garoto é que eu sentia que a História estava acontecendo longe de mim. A História e a Marilyn. Sem noção do perigo, eu queria estar no olho do furacão – no sentido figurado – e se possível pegar a deusa loira. Não cheguei a tempo de salvar a blonde bombshell, espero ter chegado a tempo de ajudar o planeta.
Quando saí de Pelotas, minha primeira escala rumo ao centro dos acontecimentos foi Porto Alegre. Vim fazer faculdade. No dia 25 de fevereiro de 1975, junto a uma multidão de estudantes, tive o privilégio de presenciar a História sendo escrita. O estudante Carlos Dayrell, meu colega da Engenharia, subiu em um enorme pé de Tipuana, na João Pessoa, para impedir que fosse cortado pela prefeitura. Foi um ato de consciência e de coragem que impediu a ação das motosserras, preservou a bela árvore e virou um marco do movimento ecológico no Brasil.
Aquele protesto teve uma força simbólica muito grande pra toda uma geração – Gilberto Gil chegou a fazer uma canção: “o menino subiu num pé de pau...” – e teve uma importância fundamental na minha história pessoal. Tão forte que carrego comigo por toda a vida. Anos depois, quando vi aquele chinesinho franzino na frente de um tanque de guerra na Praça da Paz Celestial, lembrei do meu colega trepado lá em cima daquela árvore.
Tirei desse episódio muitas lições importantes. Nunca me tornei um militante da causa ecológica por absoluta falta de temperamento, mas promovi mudanças no meu comportamento pessoal que, se não resolvem os problemas do planeta, pelo menos me dão a sensação de que estou fazendo a minha parte.
No fim das contas, não consegui pegar a Marilyn, mas saí no lucro. Peguei uma morena vegetariana, que encheu a casa de plantas, flores e atitudes, como racionar energia e separar o lixo reciclado. Depois chegaram os filhos e viramos uma turma. Já somos quatro. É quase um exército.

2 comentários:

  1. Kledir, adorei teu post! E me identifiquei imensamente com ele, pois deixei o sul pra conhecer "o mundo", mas na verdade o mundo está vindo pra cima de nós. Na forma destes cataclismos quase corriqueiros. Morei no RJ por 6 anos, fiz casinha de toras em Lumiar, perto de onde o mundo quase se acabou. Lá, não tivemos problemas, mas quero vender a casa e cadê comprador agora?? Também mudei minhas atitudes, buscando fazer minha parte e acho que fui feliz no intento, pois meu filho segue à risca. Isso é que importa, gerações futuras. Se me permitir, adoraria colocar teu post em meu blog "Se Espirrar, Saúde!" (http://sespirarsaude.blogspot.com/), com os devidos créditos e deferências, claro. Um forte abraço, boa semana. De um fã, Daniel Souza.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelo blog. Sou lourenciano e nasci quase no dia em que você entrou para a faculdade (30 de janeiro). Morei em Pelotas por cinco anos e dê lá também saí para estar mais perto de qualquer outra coisa.
    Outro dia coloquei um CD de vocês no meu carro - que ficou durante alguns meses. Queria fazer uma "lavagem cerebral " na minha filha de oito anos para que ela conhecesse um pouco mais sobre a minha terra. E deu certo, ela passou a cantar quase todas as músicas.
    Hoje moro em Bananal (SP) e me tornei fotógrafo. Adoro a natureza e, sobretudo, a atividade rural. E quando volto a Pelotas nunca deixo de fotografar a bela arquitetura da cidade. Abraços,
    Martin Winter
    www.martinwinter.blogspot.com

    ResponderExcluir