Um dos melhores testes para saber se um casamento
vai durar é os noivos saírem de viagem. Se depois de um tempo, viajando juntos,
nenhum dos dois acordar de manhã sentindo saudade da casa de mamãe, pode
acreditar, tudo vai dar certo.
Essa é a idéia da viagem de núpcias, só que ela deveria
acontecer antes do casamento e não depois, quando o contrato já está assinado.
Tem muita mulher que volta da lua de mel se perguntando onde estava com a
cabeça quando decidiu casar com aquele imbecil que não gosta de museus e deixa
a toalha molhada em cima da cama. E muito homem que se desilude, pois sua
mulher nunca ouviu falar no Estádio de Wembley.
Por isso, quando conheci minha mulher, tiramos
férias e fomos passear um mês pela Europa. Apesar da falta de intimidade, a
viagem foi muito agradável e, é claro, cheia de descobertas.
Era pleno verão europeu, passando por Barcelona,
decidimos tirar uns dias na ilha de Ibiza. Na primeira noite, após o jantar,
fomos jogar sinuca no salão do hotel. Ficamos esperando, havia muita gente na
fila e quando chegou nossa vez de jogar fiz uma gentileza com minha adversária:
“primeiro as damas”. Ela meio atrapalhada com o taco, fez a bola rolar numa
jogada sem maiores consequências. Com pose de jogador profissional, examinei
meu taco, retoquei a ponta com aquele giz azul e me preparei para atacar a bola
1. Dei um toque sutil e a bola vermelha caprichosamente foi parar na caçapa.
Esbocei um sorriso com o canto da boca e encaçapei a segunda bola. Depois a
terceira, a quarta, a quinta e a sexta... A essas alturas, já havia juntado em
torno da mesa uma pequena multidão de turistas, que entre “oohhs” e cochichos
em línguas variadas, queriam ver o fenômeno brasileiro do snooker. O jogo já
estava, como diz o ditado, “pela bola 7”, então demos o assunto por encerrado.
Cumprimentei a platéia com um leve movimento de
cabeça, peguei minha mulher pelo braço e fui saindo. Foi quando se ouviu uma
explosão de gritos e aplausos de um público maravilhado com o espetáculo que
acabara de assistir. Minha mulher, encantada com a descoberta, sorria com o
pensamento fervilhando: “gente, casei com o rei da sinuca!”.
O que acontece é que tudo aquilo foi a mais pura
sorte. Juro. Nunca joguei sinuca direito. Mas aproveitei para desfrutar aquele
momento de glória e só um tempo depois revelei a verdade pra ela.
Um detalhe importante nessa história toda é que
continuo com a mesma mulher há trinta anos. Acho que ela gostou da viagem.
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