Natal em família é sempre uma alegria e uma grande
confusão. Reunir a família – qualquer família – é um risco que deveria ser
acompanhado pela Brigada Militar, para evitar maiores problemas.
Como vocês sabem, faço parte de uma tribo que tradicionalmente
se reúne no fim do ano. O local é sempre o mesmo, a casa da mãe na praia do
Laranjal, em Pelotas. Somos um monte de irmãos que, seguindo as ordens do
Chefe, cresceram e multiplicaram-se. Essa mania da humanidade de acasalar e
procriar já anda pela casa dos 7 bilhões e nossa modesta contribuição se resume
a 36 seres humanos. Por enquanto.
O problema de juntar 36 pessoas na volta de uma mesa
começa na hora de definir a ceia de Natal. Existe na família uma ala vegetariana,
que cresce a olhos vistos. Entre os irmãos, há uma nova tendência dos intolerantes
a lactose. E há um sem-número de restrições alimentares por conta da saúde
debilitada de uns e outros, que ano após ano aumenta em proporção assustadora.
Temos os diabéticos, os cardíacos, os hipertensos, os alérgicos, os de
colesterol alto e os cheios de frescura, como eu. Isso sem falar dos que
apresentam transtorno obsessivo compulsivo. Ou seja, chegar a um acordo sobre o
cardápio da noite de Natal é uma tarefa de gincana, administrada com sabedoria
e paciência pela Dona Dalva.
A escolha dos presentes também é motivo de tensão.
Já há alguns anos se estabeleceu a prática do amigo secreto. Um para os adultos
e outro para a gurizada. Com um valor determinado de gasto, para não haver a
injustiça de alguém dar uma TV LED 3D e ganhar um par de meias, com a desculpa
de que “é apenas uma lembrancinha”. Este ano, surgiu a ideia de um amigo
secreto único, reunindo velhos e jovens, e a coisa virou um caos, uma loucura.
Ânimos exaltados, grosserias, acusações. Como até agora não houve consenso,
estamos pensando em chamar o Joaquim Barbosa.
Na hora de escolher quem seria o Papai Noel, a
situação fugiu ao controle. Os primeiros citados foram os de barriga mais
avantajada e aí, se ofenderam. Começaram a se xingar e chegaram a questionar a
masculinidade uns dos outros. Com insinuações do tipo “e tirou o lenço de seda da
Pérsia do bolso de seu paletó e secou a lágrima do amigo de tantos anos...”. Sim,
o bate boca é em alto nível e por vezes até poético. O que não diminui sua
carga de agressividade.
Tudo isso por email e telefone. Imagina quando se
encontrarem na noite de Natal. Vamos precisar da Brigada Militar.
Escrevo cartas e cartas e envio para o polo Norte todos os anos.
ResponderExcluirJá digitei:
Senhor papai noel
Digníssimo papai noel
Vossa excelência magnânima papai noel
Velho do saco
Tio capitalista
Tio máquina mortífera de famílias em via de extinção
Já digitei de tudo, e ele nunca respondeu a nenhuma.
E não respondeu porque o que ele é mesmo é um coelho de páscoa sem cenoura e sem coração.
Detesto o Natal (coisa que eu nem precisava dizer!)
beijo da bípede antivelhogeladogordoexploradorderenasedebolsos
querida Bípede
ResponderExcluirvou encaminhar teus comentários para o correio do Polo Norte - se receber resposta, te envio - bjs
Kledir