ORQUESTRA FILARMÍNIMA


Kleiton e eu tínhamos um show para fazer em São Paulo com orquestra sinfônica e coral. Momentos antes da apresentação, recebemos a notícia de que o maestro havia pedido demissão e estávamos sem regente. Pelo que ficamos sabendo, o assunto estava relacionado com atraso dos salários e um rumoroso caso extraconjugal que envolvia a mulher de um conselheiro da orquestra. O que não vem ao caso agora. Em solidariedade ao maestro demissionário, as cordas, os metais, as madeiras e os demais integrantes, levantaram acampamento.
Com a intenção de não frustrar as expectativas da platéia de um teatro lotado, tentamos contornar a situação, para que o público perdesse em volume, mas não em beleza. E a produção não perdesse na bilheteria. Antes das cortinas serem abertas, fui encarregado de explicar ao público as mudanças na programação. Respirei fundo e fui até o microfone.
“Boa noite, meus amigos. Gostaria de um minuto da atenção de vocês. Tivemos um pequeno problema em relação ao programa previsto para esta noite, mas fizemos questão de não cancelar o espetáculo, em sinal de respeito ao público aqui presente.
Segundo nota oficial da diretoria da orquestra, o maestro, cujo nome prefiro omitir, ficou preso no aeroporto de Chicago, sem teto. Pelo celular, o sujeito teria incitado os músicos a uma rebelião que chegou a agressões físicas e culminou com a destruição parcial de um violino Stradivarius. Entre outros.
A produção já estava entrando em pânico quando meu irmão, este santo homem, disse que poderia tocar violino. O problema é que o violino dele é cortado ao meio. Apesar das controvérsias, chegou-se a um consenso de que seria melhor um pedaço de rabeca do que ter que cancelar o espetáculo. Então, senhoras e senhores, tenho o prazer de apresentar, em primeira audição, o show de Kleiton & Kledir com a Orquestra Filarmínima de Porto Alegre, a menor orquestra do mundo, composta por apenas 1/2 violino, mas executada por um músico de primeira grandeza. O que equilibra a coisa toda”.
Abriram as cortinas e fomos servidos aos leões.
Foi então que acordei suando, num quarto de hotel em São Paulo e me dei conta de que tudo aquilo havia sido um pesadelo. Liguei assustado para o meu produtor e recebi, com alívio, a notícia de que a orquestra estava confirmada para o show daquela noite.

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