Por incrível que possa parecer, Kleiton
e eu somos formados em engenharia. Eu sou engenheiro mecânico e ele eletrônico.
Cantores-engenheiros não é raro na MPB: Ivan Lins, João Bosco e Francis Hime também são. No fim é isso,
artistas, engenheiros é tudo a mesma turma.
Para fazer um show, por exemplo, a gente
depende de vários profissionais da área. Precisamos de um prédio, um teatro com
tratamento acústico e equipamentos elétricos/eletrônicos de última geração.
Nossos instrumentos musicais são ferramentas de alta precisão, projetados
segundo formas, medidas, resistência dos materiais e até cálculo de
engrenagens, como é o caso das chaves usadas para afinar as cordas do violão. O
mundo está cada vez melhor graças aos engenheiros, nossos colegas. Se não fosse
o domínio de toda essa tecnologia, nós estaríamos vivendo no meio do mato,
cantando e dançando na volta de uma fogueira.
Eu adoro ciências exatas, tenho uma
mente concreta, um pensamento lógico. O problema é que eu era um cara atrapalhado
com as questões afetivas e corria o risco de me tornar um sujeito cartesiano. A
música me salvou. Encontrei uma atividade absolutamente rigorosa, de precisão
matemática, onde eu posso extravasar as minhas emoções.
Música é pura matemática. O que a gente
chama de nota musical é, na verdade, uma freqüência determinada. Lá 4 é uma
vibração de 440 hertz. Freqüências mais altas, notas mais agudas. Mais baixas,
notas graves. Além da altura, uma nota musical tem um tempo de duração, curto ou
longo. Uma sequência de notas “constrói” uma melodia. Notas tocadas ao mesmo
tempo criam acordes, harmonias. Aí, esse monte de notas com frequências e
tempos variados, são executadas em um ritmo, tipo 4/4, 6/8... E com um
andamento determinado, como 120 bpm (beats por minuto). Por isso é necessário
um maestro para fazer uma contagem e dirigir a orquestra.
Além de todas essas medidas musicais, na
hora de compor uma canção ainda é preciso “encaixar” uma letra. Versos
respeitando a métrica (um número certo de vocábulos), a prosódia (a acentuação
tônica das palavras coincidindo com a acentuação melódica) e a rima. Aí, no
fim, tudo isso tem que fazer algum sentido e ter um mínimo de beleza. Ou seja,
é uma loucura, é mais complicado do que construir um edifício. Acho que vou
voltar pra engenharia.
Comentário final: Maria Fumaça... só mesmo
dois engenheiros malucos para fazerem uma canção de amor em homenagem a uma
locomotiva.
Assim fica explicado porque nunca consegui me tornar uma pessoa musicalizada... é mais complicado do que parece... é pior que matemática... rsrs...
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ResponderExcluirMaria Fumaça, um dos grandes clássicos da MPB!!! Cresci ouvindo. Não se faz mais música assim!
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