A triste realidade para quem tem animal doméstico é
que, infelizmente, todo bicho faz cocô e xixi. E não sabe usar o banheiro.
Minha esperança é que no futuro, com o avanço da engenharia genética, resolvam
esse problema. Por enquanto, neste início do século XXI, ainda temos que lidar
com essa situação. E os filhos, você sabe como é, gostam do bônus, mas não
querem o ônus.
Um dia desabafei: “isso não é um Tamagochi!!! Alguém
tem que limpar as porcarias desse cachorro!”. No acordo que tínhamos feito,
eles seriam responsáveis pelo quadrúpede. Inclusive, imaginei que seria um bom
exercício de amadurecimento, uma maneira de irem assumindo compromissos,
entendendo o sentido da palavra responsabilidade.
No primeiro fim de semana, minha filha decidiu
viajar e o moleque queria ir a uma festa. Olharam pra mim e eu citei aquela
antiga canção: “Nem Pensar!”. Minha mulher se apresentou como voluntária. Mãe é
sempre cúmplice, por mais que os filhos aprontem. É da natureza feminina. Se
assaltarem um banco, ela vai até encontrar uma justificativa.
Pois bem, o quadrúpede foi crescendo e ainda não
tinha nome. Estava na hora de escolher. Fiz questão de participar, pois a
experiência anterior tinha sido traumática: uma pastora alemã que minha mulher
se apressou em batizar de Greta Garbo, para que no futuro eu não tentasse
colocar como nome de uma filha. Puro ciúme. Não sei de onde ela tirou isso.
Alguns amigos começaram a chamar o pequeno Golden
Retriever de Soja, uma referência à nossa família de vegetarianos. Vetei. Muita
sibilância. Além de curto e direto, nome de cachorro tem que ser musical.
Começaram a surgir as listas. Nomes extravagantes como Neymar, Cão, Uésley,
Bagavaguita, Jorge Afonso...
Chegamos a um consenso de que o nome deveria
homenagear as artes brasileiras, ter uma certa altivez, carregar o sobrenome da
família adotiva - no caso, nós - e da família biológica, do avô paterno Fender.
Depois de muita conversa, chegou-se então ao nome de Dom José Pancetti Fender
de Virgiliis Ramil, vulgo Zé.
Gostei da decisão. O título honorífico traz uma
certa pompa e ressalta o caráter de nossa nobreza familiar. Nobreza, no sentido
figurado. Ao mesmo tempo, o apelido Zé não podia ser mais adequado. É tipo
assim, um vira lata, um cachorro de rua, como a música popular praticada por
certos membros da família.
Além de Quadrúpede, Zé tem sido chamado por outros
apelidos carinhosos como Zé Ruela, Bundão, Bicho Peludo, Momoso e Zezim.
Recentemente, ganhou até mesmo um nome espiritual: Zé Zen.
Em relação a mim, não se preocupem, estou
sobrevivendo. E, não espalha, feliz da vida.
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