Vitor
Ramil é um sujeito perturbado. Agora mesmo está lançando um disco chamado “Foi
no mês que vem”, cá entre nós, um erro grosseiro de concordância. Pensei em
ligar pra ele e comentar o tropeço na gramática, mas desisti. Não me daria
ouvidos. Vive fora da casinha, em uma cidade hipotética que batizou de Satolep.
Um
cara que lê as coisas de trás pra frente e não tem noção de tempo e de espaço,
não pode ser levado muito à serio. Outro dia, publicou um texto inverossímil
onde fazia confidências sobre nossa intimidade familiar. Sim, somos irmãos, o
que talvez explique certos distúrbios de comportamento e o traço obsessivo.
Quando
nasceu, Vitor foi muito bem recebido pelos irmãos mais velhos, especialmente
porque foi contratada uma babá desinibida, que ensinou aos maiores novas
práticas de relacionamento humano. Bem interessantes. Portanto, não procede a
acusação de que tentamos eliminar o caçula com uma batida de abacate
envenenado. Não faz sentido, perderíamos a babá. Seria como matar a galinha dos
ovos de ouro.
Na
infância, Vitinho aparentava ser uma criança normal até o dia em que, com 12
anos de idade, venceu um concurso de contos que mudou sua vida. O tema era
“chocolate” e o prêmio, uma viagem a Ilhéus, Bahia. Segundo a lenda, esse
primeiro contato com o clima tropical da terra de Jorge Amado teria
desestabilizado emocionalmente o guri e inspirado o pequeno autor a escrever,
anos mais tarde, um ensaio sobre a Estética do Frio. Alguns historiadores
preferem a versão de que teria sofrido um choque cultural ao ser agarrado por
uma morena cor de jambo, no meio de uma plantação de cacau. Não sei.
Quando
jovem, o artista participou de uma expedição a lupanares de Montevideo, com o
objetivo de aprofundar seus estudos de tangos e milongas. Mais do que o
lunfardo, a cor acinzentada do cimento penteado da capital uruguaia ficou
impregnada para sempre em seu subconciente e teria contribuído para a
melancolia presente na maioria de suas canções.
Apesar
dos contratempos, Vitor foi sobrevivendo. Desenvolveu uma capacidade rara de
observação e tem produzido obras artísticas de indiscutível beleza. É um
sujeito perturbado, no bom sentido: é um artista inquieto. Elevado pelo
frentista de um posto de gasolina de Pelotas à categoria de "o maior
cantor da metade sul do Rio Grande", é o mais bem acabado dos irmãos
Ramil. Nós, os que viemos antes dele, fomos apenas experimentos. Dalva e Kleber
estavam ensaiando.
Olá...
ResponderExcluirSei que você não é de fazer comentários...mas gosto de passar por aqui...há 2 semanas perdi alguém muito importante par mim...alguém que em muitas vezes esteve aqui me ouvindo dizer: Olha o que ele escreveu!! Esse Kledir!!...tenho certeza que sempre à sua maneira,também gostava do que você escrevia...por isso sempre que eu puder passarei por aqui.
Abraços
Lhú Weiss
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluiroi Lhú - obrigado pelo teu comentário e teu carinho - um beijo e tudo de bom - Kledir
ResponderExcluir:) ABRAÇOS
ResponderExcluir