Um
pai é quase uma mãe. Por mais desprestigiado que seja no ambiente familiar, ele
tem a sua importância. Certo, não carregou o filho na barriga, não deu de
mamar, etc, mas também não é um qualquer. Quando precisaram dele, foi o cara
certo, na hora certa. Portanto, merece um dia de celebração.
O
dia dos pais é um dos raros momentos em que os filhos lembram que o pai existe
e não serve apenas como caixa eletrônico. “Você aperta aqui e ali e ele acaba
entregando dinheiro”.
Alguns
anos atrás, fomos viajar em família e tentaram me enrolar, sob o argumento de
que o dia dos pais nos EUA cai em junho. “Tô nem aí”, respondi, “quero meus
presentes”. E presente tem que vir em pacote. Não aceito coisas do tipo: “a
viagem já é um presente”. Eu quero pacote. E não adianta vir com cartão
Hallmark com desenho de coração e uma frase bonita.
Tentaram
me subornar com a idéia de um vale-presente, sem limite, a ser recebido no
Brasil, quando voltássemos. Não quis nem saber. Fiz questão de pacote no dia.
Como eles notaram que eu estava intransigente, resolveram ir às compras.
No domingo fui acordado como um rei: café na cama, beijinhos e pacotes. Ser pai
é amanhecer no paraíso.
Minha mulher me entregou um embrulho meio mole dizendo que era apenas
uma lembrancinha, para não deixar o dia passar em brancas nuvens. Abri e
encontrei meia dúzia de cuecas. Brancas. Tudo bem, considerei que tratava-se de
um presente prático. As mulheres são assim, práticas. Anotei na agenda. Ano
seguinte, no dia das mães, comprei calcinhas pra ela. Brancas. Não resisti à
tentação de dar o troco.
Minha filha, esperta, me entregou um pacote enorme. Dentro da caixa havia outra caixa, que
continha mais uma e assim por diante. Quando consegui chegar ao objetivo final
da gincana, ganhei uma caneta. Como a caneta, em vez de meu nome, trazia
gravada a marca do hotel em que estávamos hospedados, percebi que aquilo era um
brinde. De plástico. Ok, valeu pela brincadeira.
Meu guri me deu um par de chuteiras da Nike. No primeiro momento, fiquei
contente. Só quando me dei conta que nunca jogo futebol e o número da chuteira
coincidia exatamente com o tamanho do pé dele, é que descobri a segunda
intenção por trás daquilo.
Tudo
bem. No fim, acabei tendo que concordar que, apesar de não vir em pacote, fazer
uma viagem com a família já é um presente. E é mesmo.
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