A medida das coisas

Há 4 mil anos, os pés e as mãos eram usados como instrumentos de medida. Como obviamente havia gente de todos os tamanhos, a bagunça era geral. No século XVII, resolveram padronizar as unidades de comprimento de acordo com o pé e o polegar do rei. Nos EUA, até hoje essa é a referência - pés e polegadas - e, se é que há uma atualização, a polegada deve corresponder ao dedão do Barack Obama.
Em 1791 foi instituído na França o Sistema Métrico Decimal, baseado numa “constante natural” e não nas medidas do corpo de alguém. Pegaram um meridiano da Terra, dividiram por 40.000.000 e nasceu o metro. Atualmente, existem métodos mais modernos para definir o metro, como o trajeto da luz no vácuo durante 1/299792458 segundos. Mas o mais prático mesmo é ir até o armarinho da esquina e comprar uma fita métrica.
Medir é importante. E usando uma régua determinada. Imagine um mundo sem medidas, onde cada um faz o que bem entende. Você compra uma lâmpada, chega em casa e ela não encaixa no bocal. Vai tomar uma sopa e a colher não cabe na sua boca. Diz a lenda que Tim Maia chamou um arquiteto, mostrou mais ou menos onde era o terreno e mandou construir uma casa. Metade ficou em cima do terreno do vizinho.
Além de regras para avaliar o tamanho das coisas, também foram criadas bases de comparação para a temperatura, o peso, a pressão, o volume. E foi preciso inventar a moeda para se estabelecer o valor de cada coisa. Quanto dinheiro vale meu trabalho? E o seu? Quanto vale um cavalo? Depende. Ricardo III, num momento de desespero, chegou a oferecer “meu reino por um cavalo!”. Quanto vale uma canção? Mais que 1 kg de alcatra? O RadioHead lançou um disco e o preço quem determinava era o cliente. Foi um acontecimento histórico. Poderia ser assim nos supermercados.
Quanto vale uma obra de arte? Picasso tinha o hábito de pagar suas contas em restaurantes desenhando uma pomba num guardanapo de papel. Era simples para ele e um ótimo negócio para o dono do estabelecimento. Certa noite, depois de pagar o jantar com um rabisco qualquer, recebeu do bem-humorado garçom um papel com o desenho de uma árvore. Era o troco.
Há pouco tempo, uma amiga por quem tenho grande carinho, me apresentou seu “melhor amigo”. De brincadeira, questionei indignado: “por que não eu? Qual o seu critério de avaliação?”.
Como se mede os sentimentos? Quanto você gosta? Minha filha, quando pequena, dizia que me amava “mais que o infinito do universo”. Quanto você deseja? Quanto machuca? Qual o peso da sua dor? O tamanho da sua alegria? Se alguém tiver um aparelho, me diga.

2 comentários:

  1. Medir coisas sólidas, materiais que se podem ver e pegar é muito fácil. Na medicina chinesa, usa-se o tamanho de partes do corpo do próprio paciente para marcar o lugar exato de inserir a agulha na acupuntura, reflexologia, essas coisas. Agora para medir sentimentos dá para chegar a um valor aproximado usando aparelhos conhecidos. Um amigo que gosta de você irá te abraçar, isso gera uma pressão, depois do abraço, peça a ele que abrace o barômetro com a mesma intensidade. Quanto maior a pressão, maior a amizade. Ah, o mesmo serve para o beijo que gera vácuo. Se for o caso de um apaixonado, vai precisar de termômetro, medidor de pressão arterial e um estetoscópio. enfim, para os demais, uma fita métrica vale para medir um sorriso, um audiosímetro para o grito de felicidade ao te ver e por aí vai. Kledir, já que é engenheiro, será que dá para criar um aparelho que tenha todas essas funções? Não vai caber tudo isso na bolsa. Quero mostrar o quanto gosto de ti e seu irmão quando vierem fazer show de novo.

    Beijos, feliz dia do amigo!
    Exagerei? Só um pouquinho. hehe
    Aline Mariano

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  2. Kledir,

    "Me segura que eu vou ter um troço...". É assim que me sinto cada vez que leio um texto seu. Fico feliz e até mudo de humor. São bem escritos, leves, engraçados, corretos, ... diz o que quer dizer (nem todos conseguem). Que sacada! para todos os lados que olhamos existe uma medida, um valor, um peso, um preço etc. Genial!!!!

    Quando questionou “quanto vale uma canção”, lembrei-me do projeto do “Coletivo Navegantes”, que inclusive, leva o nome QUANTO VALE UMA CANÇÃO. Penso que já tenha ouvido falar. Eles desenvolveram tal projeto para valorizar produtos culturais (CD’S DVD’S, SHOWS, PEÇAS etc). Partem da lógica de custo X valor – propõe igualar o custo e o valor dos produtos culturais através da inversão da lógica comercial, deixando o espectador dar o preço. Parte-se da comparação com os outros produtos do cotidiano, levando em conta o poder que a arte exerce sobre as pessoas. Vários espetáculos já foram apresentados a partir desta idéia.

    Olha só, ainda falando em valor e o contexto tem muito a ver comigo, conosco, ou melhor, com cada um de nós, cito o filósofo KANT. Em uma de suas obras ele analisou a questão da dignidade humana. Inclusive, a dignidade humana é um dos fundamentos básicos do Estado Democrático de Direito previsto em nossa Constituição Federal. (Que pena! ....está no papel, mas quando olhamos ao redor...)
    Ele afirmou “No mundo há coisas e pessoas. O valor das coisas, chama-se preço. O valor das pessoas, Dignidade”.

    Independente disso, você questiona qual o aparelho para medir, mensurar os sentimentos. Deste não tenho notícias, mas já somos dotados de um aparelho que serve para sentir tais emoções. O coração se entristece, se alegra, tem medo e preocupação. Penso que se alguém tiver um aparelho desses, é melhor que deixe escondido.

    Imagine o Joãozinho mostrando para a Clarinha “olha como é grande meu amor por você”. Ou, o Pedro dizendo ao adversário “tome cuidado comigo, olha como é grande meu ódio por você”. Ou, ainda, a beata da igreja olhando pro céu e dizendo “meu Deus, olha como e grande minha fé”.

    Quanto a mim, se eu tivesse um aparelho desse e fosse mostrar a você, Kledir, acredito que ele explodiria, pois o ponteiro ultrapassaria a medida para demonstrar a admiração que sinto.

    Abraços,

    Marcinha

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