Carteiro

Paulo Cesar é um carteiro boa praça. Há anos entrega minha correspondência e toda vez que cruza comigo tem uma manifestação de alegria. Sempre me divirto com ele, reclamando que não me traz notícia boa, só conta pra pagar. A resposta é sempre a mesma: “hoje tem uma ótima notícia: uma herança pra receber”, sem entrar no detalhe de que pra alguém receber herança, outro precisa bater as botas. Ou seja, só chega notícia ruim mesmo.
Já foi o tempo em que o carteiro trazia cartas de amor. Perfumadas, em papel rosado, com marca de batom dos lábios da mulher amada. Algumas cruzavam o oceano, vinham de terras distantes e levavam meses para chegar. Vinham de navio, de trem, a cavalo. Não, não peguei essa época, vi no cinema. Muito menos recebi cartas escritas com pena de ganso. Não sou tão antigo assim. Sou apenas um romântico incorrigível.
Com o advento do e-mail, ninguém mais escreve cartas, as mensagens voam pela internet. E como os tempos estão cada vez mais velozes, a conversa ficou meio telegráfica, tipo SMS, BBM e outras mensagens minúsculas, digitadas com o dedão no celular. Aliás, telégrafo é outra coisa que nem sei mais se existe.
O bom é que hoje, através do computador, podemos ver e falar com a mulher amada, em tempo real, mesmo que ela esteja na Nova Zelândia. Dá pra matar a saudade, fazer declarações de amor. Só não dá pra abraçar e sentir o perfume. Por enquanto. O desafio da tecnologia para os próximos anos é conseguir transmitir o tato, o gosto e o cheiro das coisas. Entre elas, a mulher amada.
No tempo em que as pessoas moravam em residências sem grades, as casas tinham uma cerca baixa, com um portãozinho de madeira, flores no jardim e um cachorro. Cachorro era o terror dos carteiros. Todo quintal tinha um cão enfurecido, desses que correm atrás até de uma roda em movimento. E a paixão de qualquer cachorro é morder perna de carteiro. É uma tara, um gene dominante do DNA canino. O bicho não pode ver um uniforme dos Correios que fica louco. O carteiro, por sua vez, não pode ouvir um latido. Entra em pânico e sai correndo. Cães e carteiros são incompatíveis.
Os carteiros estão em extinção, como o mico leão dourado e o urso panda. Em pouco tempo não terei mais meu amigo Paulo Cesar pra fazer comentários divertidos. O mundo está ficando sem graça.
Vou sentir falta dos carteiros. Os cachorros, então, vão sentir muito mais.

5 comentários:

  1. Será que se eu mandar uma carta tu me respondes?
    Tu só posta e não (inter)age com a gente.Buá,rss

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  2. Sempre gostei de trocar cartas, mas, por alguma estranha razão, o meu fascínio maior foi sempre pelos envelopes :)
    Que, ah, quanta promessa há em um envelope!!
    beijo.
    BF

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Têm um cara que acredito eu, seja também um boa praça, o nome dele é Kledir. Eu sempre passo por aqui mas ele nunca passa por lá.
    Sem problemas, entendo...trabalho é sempre trabalho, sei como é isso e como sei...
    Por enquanto vou fazendo como o carteiro, vou passando e comentando...quem sabe um dia a "água mole em pedra dura, tanto bata que até fure"...rsrsrs..."e nesse dia então vai dar na primeira edição"...cenas de fogos de artificios direto no seu e-mail ou carta, como queira!!
    Abraços amigo
    Lhú Weiss

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  5. Também sou uma romântica e curto ser assim. Por isto que não deixo de ter aqui em minha gaveta envelopes e selos. Gosto de escrever para minha tia de 82 anos, meu irmão já que dá briga no telefone e ele se nega a usar e-mail, minha prima de Brasília e amigos que foram para bem longe do Brasil, que até poderia falar até pelo computador, mas trocando cartas ou não, escrevo do mesmo jeito, pois gosto assim. Quem leva minhas cartas para o correio é meu próprio carteiro que todas as terças toca a campainha.
    Você está totalmente certo, carteiro é uma espécie em extinção e os cães vão acabar ficando obesos.
    Beijão.

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