VIP de laboratório

Estamos vivendo um tempo de celebridades, todo mundo quer ser VIP. Tem gente que é famosa porque aparece na TV e aparece na TV porque é famosa, num ciclo sem muita explicação. Tem uns até que vivem disso, ser famoso virou profissão. Eu sou do tempo em que uma pessoa era considerada importante quando criava ou produzia alguma coisa relevante. Nesse caso, fazia sentido o termo Very Important People.
No Rio de Janeiro essa indústria das celebridades teve um crescimento tão extraordinário, que entrou em colapso. Acontece que no Rio todo mundo se considera especial, faz questão de ser convidado para os eventos bacanas e receber a pulseirinha colorida que dá acesso aos lugares privilegiados. O problema é que na Zona Sul carioca todo mundo é artista, ou melhor, pensa que é, e a coisa foi ficando banalizada. Você vai a um evento e acaba esbarrando sempre com as mesmas pessoas, parece reunião de condomínio. Então foi preciso separar os VIPs por categorias. Ou castas, se você preferir. Os VIPs, os muito VIPs e os muito muito VIPs. Não dá pra misturar, por exemplo, a Gisele Bündchen com uma dessas gurias que apareceram em um reality show qualquer.
Por isso, nas festas badaladas, criaram o “curral”, área restrita onde só entra quem é muito VIP. E, lá dentro, fica o “curralzinho”, que é um espaço exclusivo pro pessoal top do momento. Sim, porque o topo desse tipo de alpinismo pode ser fugaz. Quem chega ao cume, tem que aproveitar, porque dali a pouco chega outro empurrando com o cotovelo.
O “curralzinho” não tem lugar pra muita gente, até porque uma estrela de verdade costuma andar com sua entourage e protegida por seguranças. Com todo direito. O problema são os neofamosos, com o ego inflado por um brilhareco passageiro. Ego inflado é um negócio que ocupa espaço.
Outro dia, recebi uma correspondência de um laboratório de análises clínicas com um cartão VIP, de cliente preferencial. Fiquei envaidecido. É como se estivessem me convidando para entrar no curral de privilégios da empresa onde, entre outras vantagens, eu não precisaria mais pagar a coleta de sangue domiciliar. Aos poucos a ficha foi caindo e me dei conta que estavam me chamando de velho. Ser VIP de laboratório é um péssimo sinal. Claro, quem precisa deste tipo de serviço o tempo todo somos nós, os de idade avançada.
Não importa. O que interessa é que já posso me exibir dizendo que tenho um cartão VIP. Tudo bem, não é uma festa com a Giselle, mas já é alguma coisa.

Um comentário:

  1. Kerido Kledir,
    O Rio é a Califórnia toda dentro dela, com seus belos bairros e a grande empresa global de novelas. É lá que ficam os paparazes.
    São Paulo já tem um outro astral, onde durante o dia quase todos são anônimos e a noite alguns se transformam em VIPs.

    ResponderExcluir