A matéria do Fantástico causou
tanto estardalhaço, que fui convidado a apresentar palestras motivacionais em
congressos e seminários. “Um sobrevivente de alto mar, com uma inacreditável
aventura de final feliz - um exemplo de superação a ser seguido”. Pelo menos é
o que está escrito no eflyer que meu produtor mandou confeccionar e distribuiu
pela internet.
Meu companheiro de jornada, com 1o
grau incompleto, não despertou interesse das empresas de eventos, já que não
tem com as palavras a mesma habilidade que tem com o pandeiro. De qualquer
maneira, consegui um trabalho pra ele ganhar um dinheirinho extra. Depois eu
conto.
A idéia da palestra era aproveitar
a metáfora daquela aventura e apresentar temas como “administrando conflitos –
estamos todos no mesmo barco”, “se o empresa afunda, você vai junto” e por aí
afora.
Produzimos a palestra como um
espetáculo de showbiz. Ao som de “We are the Champion” em alto volume, começava
um movimento frenético de luzes Intelabin, enquanto o telão mostrava cenas de
naufrágios em alto mar, entre elas a do Leonardo diCaprio - primeiro agarrado
na Kate Winslet, na proa do Titanic gritando “I’m the king of the world” e, na
sequência, agarrado a um pedaço de tábua, batendo queixo dentro do mar gelado.
Nesse momento é que, sob uma
salva de palmas, puxada por meu próprio produtor, eu adentrava ao palco enfiado
numa bóia de girafinha. O toque de bom humor é fundamental nessas palestras,
para descontrair o ambiente. Foi o que me disse o produtor. Eu, sinceramente,
me senti meio ridículo, mas pra quem já passou o que passei, tudo isso era
barbada.
Depois de descontrair o ambiente,
eu começava a contar a aventura e o assunto ficava sério. Com pinceladas de
dramaticidade, para aumentar a tensão, citava minha convivência com Zé Mané do
Pandeiro, introduzia o tema do companheirismo e aproveitava para enaltecer o
“trabalho de equipe, fundamental para o sucesso de qualquer empreendimento”.
Aí, quebrando o clima e preparando o Gran Finale, entrava o Zé Mané apresentando
aquele espetáculo de ritmo e malabarismo que havia encantado os nativos da
ilha. E tudo terminava em carnaval.
Para encerrar, eu anunciava que
meu livro de auto ajuda “Estamos todos no mesmo barco” estaria à venda, com
direito à autógrafos, na saída do auditório. E que todo direito autoral seria
doado a uma ONG que criei para ajudar as criancinhas necessitadas do Triângulo
das Bermudas.
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