JOGOS OLÍMPICOS


         Nunca participei de uma olimpíada. Culpa da professora de piano que, quando eu era garoto, me proibiu de praticar “esportes primitivos” como basquete, vôlei e futebol. Não agüentei aquele regime de clausura, dei um cartão vermelho pra ela e fui à luta. No sentido figurado, já que eu não tinha estrutura física para o judô, o boxe ou o taekwondo.
         Comecei praticando ping-pong, hoje conhecido como tênis de mesa. Infelizmente peguei um chinês pela frente e fiquei humilhado. Tentei a corrida de obstáculos, mas tropecei. Na ginástica acrobática, torci o pescoço. Experimentei o salto com vara e quebrei um braço. Para patinação eu não tinha equilíbrio. Para equitação, não tinha cavalo.
         Fui parar na piscina. Foi um fiasco. Era inverno e naquele tempo não havia piscina térmica. Fiquei congelado, o que paralisou a maioria dos meus neurônios. Segundo exames recentes, continuam inativos. Mesmo neurologicamente lesionado, tentei o salto de trampolim. No primeiro mergulho de cabeça sofri uma concussão cerebral que terminou por liquidar os poucos neurônios que haviam sobrado. Só dois ficaram funcionando, em modo emergencial: o Laurel e o Hardy.
         Continuei insistindo. Desiludido com a natação, que além da função cerebral havia aniquilado com a minha reputação, resolvi tentar arco-e-flecha. Acertei a perna de uma guria e quase fui linchado. Eu havia perdido a concentração, uma das seqüelas da experiência aquática. Fiz um teste para o levantamento de peso e fiquei abaixo do índice feminino. O professor musculoso ficou rindo da minha cara. Tem gente que não tem psicologia mesmo. Um adolescente precisa de apoio, senão periga seguir pelo “mau caminho”. Foi o que aconteceu. Comprei um baralho, enfiei a cara no jogo do pôquer e não parei mais. Experimentei sinuca, totó, dados, dominó e todo tipo de jogos de tabuleiro: víspora, damas... Fui parar no xadrez. No jogo, não na prisão. Como dizia Millôr Fernandes, parafraseando Bernard Shaw, "jogar xadrez desenvolve muito a capacidade de jogar xadrez". Eu estava perdido.
         Quando chegou o Natal, pedi uma bola de futebol e me deram um violão. O técnico do time da escola me incentivou dizendo que eu tinha um dom. Para a música.
         Foi aí que eu me dei conta que o violão chamava a atenção das garotas. Chutei o balde e me dediquei como um atleta ao estudo do instrumento. Cheguei a ganhar disco de ouro. É o meu consolo. Disco de ouro é quase como uma medalha. Só não dá pra pendurar no pescoço.

2 comentários:

  1. Com tantas fãs pra se pendurar no seu pescoço, vai querer um colar pra quê?? rsrsr
    Eu sempre fui um desastre incurável.
    Não dava a mínima pro meu fracasso, mas agora quando vejo o meu pequeno bípede tropeçando nos próprios pés, lamento não ter dado a ele melhor herança genética.
    Fazer o quê?
    Cada um tem a parte que lhe cabe de DNA.

    Beijo :)

    BF

    ps. Tira o verificador de letras dos comentários que a mecânica do trucidamento virtual tá transformando a gente em robôs!

    ResponderExcluir
  2. Kledir, pingue-pongue e tênis de mesa são esportes diferentes. Explico: no tênis de mesa, quando a bola bate na rede e cai para o outro lado, o atacante pede desculpas ao adversário pelo sem-querer do ponto ganho. No pingue-pongue, ele debocha e faz dancinha! Tá aí a diferença!

    ResponderExcluir