O pessoal do Fantástico que veio me entrevistar não
gostou do meu depoimento. Claro, meu amigo maluco do pandeiro havia contado uma
história muito mais interessante para o horário nobre, que além da passagem
pelo Triângulo das Bermudas, descrevia abdução por seres alienígenas.
O que eu disse ao rapaz que me entrevistou é que não
sei o que aconteceu. “Acredito que tenha sido um sonho. Estávamos há dias em
alto mar, sem água, muito sol na moleira...”. Foi só o que declarei.
Pra vocês, conto o que aconteceu de verdade. Acordei
com a voz do meu companheiro: “aêee... acho que o sol tá chegando perto da
gente”. Como era noite, pensei que o fulano tinha desagregado. Abri o olho e vi
uma luz muito forte sobre nós, um clarão, um enorme cone vertical que nos sugou
com lancha e tudo pra dentro de um disco voador.
Era um pessoal simpático. Nos ofereceram um jantar,
com pílulas, comprimidos e uma bebida azul fluorescente, que soltava fumaça.
Preferi aceitar um copo d’água e abri conversa agradecendo a hospitalidade.
Fomos informados que estávamos ali fazendo parte de um estudo antropológico:
ficaram curiosos com o fato de que todos vivem amontoados em cidades, em terra
firme, e aqueles dois estavam sozinhos, em alto mar. E pelos sorrisos, deu pra
perceber que insinuavam que éramos um casal.
Ao final do jantar perguntaram se estaríamos
dispostos a uma experiência sexual intergaláctica. Apesar do caráter científico
do experimento, respondi que sou casado e não me sentia à vontade para participar.
Meu companheiro que, pra variar, havia abusado da bebida servida, se colocou à
disposição. “Aêee, tô na área”. E comentou comigo: “Cara, é um bando de
mocréias, mas já tô a perigo mesmo”. Foi aí que caiu a ficha. “Vem cá, como é
que eu vou saber quem são as garotas e quem são os rapazes...?”.
Não sei o que aconteceu dentro daquele quarto, mas
não foi bacana. Zé Mané saiu transtornado, chutando a porta. Enfiou o dedo na
cara de um ET e gritou: “quero voltar pra casa, agora! Se não, vou chamar o
pessoal da NASA”. E sentou na nossa velha lancha, com as mãos na cintura.
Acompanhei o movimento e sentei quietinho no meu
banco. Tomei coragem e pedi que, se possível, gostaria de ser deixado em casa,
CEP número tal, mas os caras não estavam pra conversa. Fomos largados no meio
do mar.
Que maldade. Tem gente que não tem educação mesmo.
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