Há mais ou menos 40 anos, Klebér, meu pai, trouxe do Taim uma tuna
exótica e plantou em um dos canteiros de nossa casa, na rua Dr. Amarante, em
Pelotas. Tempos depois, como ele e Dalvinha estavam de mudança para um
apartamento, carregou aquele cactus enrugado e replantou na frente do edifício
M. A. Ramil, onde o fenômeno foi crescendo de forma assustadora e hoje já
atinge 3 andares.
A tuna
do Klebér é uma planta estranha, que evolui de maneira desordenada e
ameaçadora, como se fosse um desses bichos alienígenas que aparecem no cinema.
É um ser esquisito, um sobrevivente da obscura fronteira entre os reinos
vegetal e animal. E mais, vem de uma região suspeita, onde o governo inclusive
já estabeleceu uma Reserva Ecológica para observar a natureza e preservar
animais da extinção, como a capivara, o maçanico e o ratão do banhado. Isso sem
falar dos moradores da Praia do Hermenegildo, que estão sendo engolidos pelo
mar.
Voltando à tuna. Seguindo a tradição da família de espalhar pelo mundo
o tal espécime – iniciativa que já levou mudas para Porto Alegre, Barcelona,
Remanso e Balneário Santo Antônio - um braço do excêntrico cactus foi trazido
por mim e plantado no município do Rio de Janeiro, mais precisamente no Jardim
Dona Mocinha, de minha propriedade.
A viagem foi tranqüila, sem maiores sobressaltos, a não ser no momento
em que o bicho, quer dizer, a planta passou pelo raio X do aeroporto e teve uma
manifestação de desconforto. Na dúvida, o pessoal da segurança chamou o agente
sanitário que, sem saber como classificar aquilo, deu de ombros e permitiu o
embarque. Portanto, que fique aqui registrado: entrei no espaço aéreo
brasileiro e no Estado do Rio de Janeiro, com a devida autorização do Governo
Federal, através de seus órgãos competentes.
Espero não ter surpresas por aqui. O histórico das operações anteriores
é o melhor possível, ou seja, a coisa cresce, mas não acorda. Não houve até
hoje nenhum relato de violência envolvendo a tuna do Klebér. Pelo contrário,
até mesmo manifestações de deslumbramento com suas flores sazonais têm sido
registradas. Mas enfim, nunca se sabe.
Sinceramente, minha única preocupação é que aconteça alguma mutação
genética, causada pelo contato desse corpo alienígena de baixa temperatura, com
o clima tropical. Confesso que não sei o que pode vir por aí, eu não entendo
nada de botânica. Ou será biologia?
Vou ficar quieto, observando. Se o bicho acordar, eu aviso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário