Recebi através do Facebook uma foto linda com um
texto que conta uma história de solidariedade entre crianças de uma tribo
africana e, ao final, ensina que a palavra Ubuntu quer dizer “eu sou porque nós
somos”.
Aquilo mexeu comigo, emocionalmente, e resolvi fazer
o que nunca faço: compartilhei na rede. Assim como eu, muitos de meus amigos
virtuais ficaram sensibilizados e começaram a comentar, curtir e compartilhar o
post.
Em um determinado momento, meu amigo Zeca Petry
publicou um comentário informando que aquela história era uma farsa e
esclarecendo que muitas publicações desse tipo são usadas para a promoção de
sites e páginas com interesses escusos. O assunto virou polêmica. A questão é
que não há na internet garantia de veracidade. Posso estar sendo enrolado e até
mesmo, com minha ingenuidade, estar contribuindo para promover uma atividade
criminosa.
Essa foto dos meninos africanos não me parece um
caso para o FBI. De qualquer forma, o debate online esquentou, com opiniões
variadas. O que mais me deixou interessado nessa mobilização toda, foi um
detalhe, um assunto que me fascina: a natureza do processo criativo e a zona
nebulosa que existe entre ficção e realidade. Qual a importância de uma história
ser ou não verdadeira? Que fique bem claro, estou falando aqui de criação
artística. Canções, romances, filmes...
Por isso fiz um comentário citando John Lennon, que
canta em Julia “metade do que eu digo não faz sentido”. Que, aliás, é um texto
que ele pegou de um poema de Kalil Gibran. Eu também poderia ter citado “o
poeta é um vingidor” de Fernando Pessoa, mas iria acabar repetindo o que
Kleiton e eu já fizemos no DVD Autorretrato.
A internet é um prato cheio para mentiras. Como a
vida real. Temos que entrar de cabeça, com um pé atrás. A prudência é a
primeira das virtudes. Ao mesmo tempo, não dá pra viver na paranoia de que tudo
é uma ameaça.
Eu sou fã de ilusionismo. Outro dia escrevi que
“mágica é a trapaça elevada a categoria de arte”. Meu coração se alegra com
ilusões e fantasias. Desde que não seja um crime, um pecado, um deboche.
Enfim, com tudo isso aprendi mais um pouco e já
decidi: vou continuar postando apenas as coisas que escrevo. Essas sim, tenho
certeza que são verdadeiras. Ou não. Como dizia Tim Maia, “meu único vício é a
mentira”.
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